A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 158
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- Capítulo 158 - História Extra 1
Os largos corpos das hienas, que afinal eram predadores, criaram uma sombra sobre mim. Por reflexo, abri mais os braços e falei com amargura.
“Já disse para não se aproximarem!”
“Ei, esse é o seu tal namorado secreto que tanto falam?”
“…Não entendem que estou fazendo isso para proteger vocês dele?”
“Quê? Vivi, você não estava me protegendo?”
Escutei a voz desapontada de Ahin ressoar em minhas costas. Ele parecia estar tentando dar a impressão de ser fraco e delicado.
Irritada, girei e agarrei os pulsos dele. Se Ahin usasse os punhos, era óbvio que essas hienas iriam sair voando com o impacto. Enquanto procurava uma maneira de sair dessa situação, comecei a me desesperar.
“Esse é o namorado da presidente? Ele estudava aqui na Academia?”
“E esses óculos bizarros?”
“Não são os óculos de brinquedo do filho da Professora Janna?”
Outros estudantes perceberam nosso conflito e começaram a se aproximar. Muitos olhos se fixaram no uniforme de Ahin.
“Ei, eles parecem estar curiosos para ver seu rosto. Porque não tira essa coisa bizarra da cara?”
Os estudantes do clã das hienas, animados com a plateia, se aproximaram de Ahin. Felizmente, não parecia que ele usaria seus feromônios, por enquanto.
“Hmm, não me importo de tirá-los, mas não quero fazer isso porque vocês mandaram.”
Ahin, que estava mais paciente do que eu teria esperado, falou em tom de aviso.
“E é melhor que vocês obedeçam a Vivi. Porque ela é a coelha que controla todo o território das panteras negras com uma única pata.”
“Que absurdo.”
“Há poucos dias, ela invadiu o território dos leões e fez centenas de vítimas.”
“Esse cara é maluco?”
Estava tudo arruinado. Não tinha mais como sair dessa situação. Derrotada, falei com uma voz sombria.
“…Ao menos não tirem os óculos dele…”
Quando se fala para alguém não fazer algo, é natural do ser humano ter vontade de fazê-lo. O hiena removeu os óculos antes mesmo que eu conseguisse me lembrar desse fato.
“Hein? Ele é uma pantera negra?”
O estudante do clã das hienas, ao ver os olhos vermelhos, estremeceu. No entanto, se lembrando da plateia, ele se recuperou e observou Ahin com atenção.
“Seu rosto… é familiar…”
Sim, é sim, por isso, pare antes que consiga se lembrar quem ele é! O pano que Ahin usava na cabeça foi removido em seguida, antes que o meu desejo pudesse ser atendido. Seus cabelos prateados ficaram expostos e voaram ao vento.
“…”
Um silêncio seguiu. Os estudantes, encarando os cabelos desarrumados, ficaram boquiabertos ao mesmo tempo. Aos poucos, cada um começou a perceber que aquele era o rosto que estampou a capa de muitos jornais.
Aparentemente, o fato de que ele estava na Academia em circunstâncias tão bizarras fez com que eles demorassem a aceitar que aquela pessoa era, de fato, Ahin.
“Ele…”
O homem-besta hiena, que ainda estava com o pano florido na mão, murmurou chocado.
“A-Ahin Grace…?”
“Sim.”
Assim que a verificação de identidade terminou, alguém soluçou. Como se isso fosse um sinal, os gritos de vários estudantes ressoaram pelo campus da Academia.
***
Já que a identidade dele tinha sido revelada, de qualquer maneira, Ahin ofereceu manter a segurança dos estudantes hienas em troca de eu levá-lo em um tour pela Academia.
Como presidente do conselho estudantil, não podia deixar sangue ser derramado no campus. Enviei os estudantes ao gabinete do diretor – minha vingança pessoal – e levei Ahin para a biblioteca.
Felizmente, ele chamaria menos atenção ali, e também era meu lugar preferido.
Sentada ao lado da janela do segundo andar, deitei de barriga para baixo usando um livro como travesseiro, aproveitando o calor dos raios de sol.
A biblioteca estava vazia porque os estudantes tinham descido para o térreo, para evitar Ahin.
‘Que bom que só descobriram agora, pouco antes da formatura…’
Depois de me convencer do lado bom da situação, rolei para o outro lado. Encontrei os olhos de Ahin, que estava deitado na mesma posição, na minha frente. Nos olhamos em silêncio, até que falei.
“Você tomou mamadeira.”
“Está falando isso de propósito para me envergonhar?”
“…Sim.”
Era uma vingança por ele ter me ocultado ser o pantera negra bebê. Mas, ao contrário do que eu esperava, em vez de ter vergonha, Ahin respondeu sem hesitar.
“No começo fiquei humilhado, mas como era você me alimentando, não foi tão mal.”
Besta ingrata. Em vez de responder, franzi a testa. Ahin, passando o polegar entre minhas sobrancelhas, disse, fechando os olhos.
“…Mas a roupa para cachorros foi exagero.”
“Era melhor que passar frio.”
“E como se não bastasse, você ficou sacudindo aquele brinquedo para gatos na minha frente. E falou que, se eu não o pegasse, iria me comer?”
“Era uma brincadeira. Você fez o mesmo comigo, não lembra?”
Enquanto continuávamos a discutir, começamos a rir. Quem diria que a poção com o objetivo de nos compreendermos melhor iria fisicamente transformar Ahin em uma pantera negra bebê… De um certo modo, foi a maneira perfeita para ele compreender ao menos um pouco como tinha sido ser um coelho bebê.
“Ei, Ahin…”
Hesitei por um momento. Assim que Ahin tinha se humanizado, algo que me incomodou todo esse tempo.
“…Você ouviu minha conversa com a professora Janna? Sobre o nosso futuro filho…?”
“Eu estava bem do lado. Não pude evitar de ouvir.”
Ahin sorriu de leve, e não pude ler sua expressão.
“Não deixei de discutir isso com você de propósito. É só que… pensei que esse assunto poderia te ferir.”
“Tudo bem. Porque eu também pedi uma investigação igual para o meu médico.”
“Mesmo?!”
Com os olhos arregalados, minha expressão mudou para desconfiança.
“Mas, como você obteve meu cabelo…? Ah, me lembro que você puxou o meu pelo quando me transformei em lebre.”
“Sim, e levei um chute enorme por ter feito isso.”
“…”
“Foi emocionante.”
Ainda estávamos deitados olhando um para o outro, e sorrimos ao mesmo tempo.
“De qualquer modo, foi um bom resultado, não é?”
“Sim. Mas Vivi, eu quero uma filha que seja que nem uma pantera negra e um filho que seja que nem um coelho.”
“Não, de jeito nenhum.”
Apertei os lábios. De acordo com a Professora Janna, havia uma chance enorme da criança que ia nascer ter ambos os feromônios de cura e de dominação. Se nascesse um pequeno general de fraldas, não seria surpreendente.
“Tenho uma coisa a mais para perguntar.”
Ahin falou, puxando minha mão. Ele passou o polegar pelas costas de minha mão gentilmente.
“Desde quando você tem pesadelos?”
“Pesadelos? Do que está… Ah.”
Só então me lembrei que tinha tido um pesadelo na noite anterior. Deveria mentir ou ser honesta? Enquanto pensava sobre isso, os olhos dele já pareciam saber de tudo.
Julgando as circunstâncias, tinha que ter sido Ahin quem colocou a toalha úmida em minha testa. No fim, desisti de esconder e falei com cuidado.
“Na verdade, desde que fui mordida por Ahin, tenho esse sonho às vezes… Ah, mas não é sempre…! Essa foi a primeira vez em muito tempo… Acho que é porque é inverno, e eu voltei a dormir sozinha no dormitório da Academia…”
“Então, quer dizer que você sempre se escondia no cobertor e tremia daquele jeito durante os invernos, que nem ontem?”
Ahin moveu a mão suavemente e acariciou minha bochecha. O calor de sua mão se espalhou em minha pele fria.
“Não te ensinei a entrar debaixo das cobertas por essa razão.”
Uma grande mão embrulhou minha bochecha e me deu uma sensação indescritível de segurança. Senti que ia chorar, então rangi os dentes.
“Se você se esconde embaixo das cobertas, a dor desaparece.”
O método que Ahin me ensinou tinha, de fato, servido.
“Não vai responder?”
“…Não te contei nada porque era só um sonho, e era óbvio que você iria se preocupar.”
Ahin beliscou a minha bochecha, que ainda segurava, sem falar nada. Quando tentei me afastar, os dedos dele apertaram meu nariz.
“Ai.”
“…Comigo é igual.”
“O quê?”
Pisquei, sem entender as palavras de Ahin.
“Comigo é igual. No inverno, me sinto inseguro passando pelo quarto de minha mãe, onde você desapareceu, e toda vez que seu cabelo se move, tenho medo de ver a cicatriz do ferimento.”
Ele falou em um tom suave, como se contasse a história de outra pessoa.
“Eu não quero isso, mas acabo te evitando. Fico enxergando Vivi caída na minha frente, sangrando.”
Tudo que Ahin dizia ecoava em meus ouvidos. Ele era igual a mim. Quando o inverno chegava, as memórias daquele dia voltavam a ressurgir. O chão de mármore frio, o som dos instrumentos cirúrgicos, o silêncio de um quarto vazio, o cheiro de um inverno solitário.
Cada uma dessas coisas trazia uma dor aguda e meus nervos ficaram à flor da pele. Abri a boca depois de um tempo, olhando para as memórias que se desvaneciam.
“…Então era por isso que você estava me evitando.”
“Desculpe. Eu queria resolver isso por minha conta.”
Ele falou gentilmente e retornou a mão de minha bochecha. Então, segurou minha mão outra vez.
“Esse um ano e meio no qual Vivi ficou desaparecida foi tão terrível que nunca mais quero repetir isso de novo. Ao ponto em que perco minha capacidade de pensar normalmente.”
Ahin nunca pensou como uma pessoa normal. Eu temia imaginar o que isso significava para ele.
“Não acho que isso aconteceria agora, mas… E se um dia você cansar de mim, o que farei?”
“Isso não vai acontecer…”
“Mas e se acontecer? Talvez você queira realmente virar uma coelha dançarina e sair em uma tour mundial…”
De novo me chamando de dançarina? Com os olhos estreitados, girei o pulso e escapei da mão de Ahin. Os dedos dele foram dobrados e deve ter doido, mas ele apenas sorriu, triste.
Com meu coração benevolente comovido por isso, Ahin envolveu meu dedo mindinho com o seu e falou.
“Eu prometo.”
“Quê…?”
“Não vou mais esconder os meus medos relativos àquele dia. Então, Vivi também não deve fazê-lo.”
“…”
“Se você tiver um pesadelo, eu vou te despertar.”
Meus olhos tremeram, olhando para os nossos dedos entrelaçados. Senti gratidão por ter alguém em quem confiar completamente.
“Eu prometo também….”
Sentindo minha garganta apertar pela emoção, mordi os lábios com dificuldade.
“A sua vida de coelha será a multa por descumprimento.”
“Isso é um pouco…”
Essa besta obsessiva. Com lágrimas nos olhos, apertei com força a mão de Ahin e a empurrei.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Tô contigo ahin! Quero dois filhos do jeitinho q vc falou hein?!