A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 157
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- Capítulo 157 - História Extra 1
‘Desde quando ele esteve fingindo ser um animal?’
Parecia que minha alma tinha deixado o corpo, pelo choque.
Tic, tac. O silêncio se prolongou, e Ahin tocou minhas pálpebras com os dedos.
“Está dormindo com os olhos abertos?”
“Sim… Não! Como assim?! O que aconteceu?”
Cobri o rosto com a mão enquanto empurrava Ahin para longe. Percebi que, por ter se humanizado, ele estava sem nenhuma roupa.
‘Ai, meu Deus.’
O maior problema era que, na posição em que ele estava, cada parte de seu corpo firme era claramente visível.
Os sons de nossas respirações se misturavam. Meus cílios, vendo os ombros nus dele, tremeram, e a tensão ia até meus dedos dos pés.
“Vivi, do que adianta cobrir o rosto se você deixa os olhos de fora?”
“Quê? Eu…”
Engolindo em seco, comecei a rolar Ahin no cobertor. Foi difícil porque seu corpo era desnecessariamente grande. Logo, ele estava parecendo um casulo e enxuguei o suor da testa.
“Vou arrumar umas roupas para você, então fique quieto aí. E quero uma explicação depois!”
Falei severamente, pressionando um Ahin que se contorcia dentro do casulo. Apesar de ter conseguido vencer a barreira de um Ahin pelado, ainda não podia baixar a guarda perto dele, pois era imprevisível.
Depois de se contorcer um pouco mais, ele desistiu e deitou na cama, sorrindo. Seus cabelos prateados se espalharam, cobrindo parcialmente seus olhos curvados.
“Ainda não conseguiu se acostumar?”
“…Ahin, você não sente nenhuma vergonha, não é?”
“Não acho que uma coelha com olhos tão lascivos possa falar de mim.”
“Meus olhos não estão…”
“As suas orelhas estão vermelhas.”
Esfreguei os olhos e cobri minhas orelhas, que estavam quentes, com ambas as mãos. Esse pantera negra ardiloso. Era absurdo que ele soubesse o quão eficaz era o poder de ataque de seu rosto e seu corpo. O encarei enquanto me afastava.
“Bem. Vou arrumar roupas emprestadas para você usar.”
“Vai pedir para quem?”
Não consegui uma resposta, então pensei. Alguém com uma altura próxima a de Ahin…
“…Alan Fredian?”
“Rejeitado.”
O rosto de Ahin, que estava sorrindo suavemente, se tornou uma carranca.
“Prefiro sair nu por aí que usar as roupas de Aullong.”
“Eu não prefiro!”
Neguei com a cabeça e rolei os olhos. Onde mais eu poderia arrumar roupas? Logo, me lembrei de uma loja na qual eu poderia encontrar roupas do tamanho de Ahin.
“Voltarei logo, então nem pense em fugir. Espere aí.”
“Por que eu fugiria de Vivi?”
Mais uma vez o ignorando, apesar de ter dito lindas palavras, abri a porta e saí do dormitório. Pude ver Ahin acenando suavemente pela fresta da porta enquanto a fechava.
***
A loja de uniformes escolares ficava em uma rua próxima na cidade acadêmica de Belhelm. Felizmente, eu tinha conseguido obter um uniforme do tamanho de Ahin.
Mordi os lábios enquanto me dirigia à carruagem onde Evelyn devia estar esperando.
De um efeito colateral da poção a vir para a Academia a ser enfiado em uma panela. Após ouvir a história de Ahin, senti arrependimento e desespero.
‘Mas por que ele tinha que estar justamente em uma panela?’
Como dizem, não se pode levar para casa qualquer coisa que se ache na rua… Fiquei muito conflitada, porque não tinha conseguido perceber nada sobre o bebê pantera negra. Ele escondeu seus feromônios tão bem que nem o vovô foi capaz de detectá-los.
Os dias que eu tinha vivido junto ao filhote passaram em minha mente como um panorama.
‘Agora entendo porque ele resistiu tanto a tomar mamadeira.’
E o que mais… ele tinha desmaiado depois de ser beijado pelo vovô. E quando vesti nele a roupa para cachorros, seus olhos diziam que estava morto por dentro. Tinha uma razão pela qual ele ocasionalmente fazia uma expressão solitária.
Quanto mais eu pensava, mais irritada ficava. Me estremeci.
‘Hendry… Ela sabia de tudo e fingiu não saber.’
Ela era muito tagarela, mas, na festa de chá, tinha ficado estranhamente calada. Pisando no chão com força enquanto andava, fui me acalmando.
Na frente de Ahin, qualquer predador se sentia como um rato na frente de um gato. Hendry era do clã dos porcos, então eu conseguia entender o porquê de ela ter ficado calada, melhor que ninguém.
Olhei para trás, vendo que Ahin me seguia alegremente.
“Você podia ter me dito desde o começo. Por que escondeu sua identidade?”
“Vivi, eu também sou humano.”
“O que isso quer dizer?”
“As vezes tem coisas das quais me envergonho.”
Talvez ele devesse olhar para a própria vida antes de sentir vergonha por virar uma pantera negra bebê. Eu nunca iria entender os parâmetros de vergonha de Ahin.
“…”
“Então, ficou decepcionada?”
Me estremeci com a pergunta e respondi em voz baixa.
“Bem, não muito…”
“Não muito?
“Na verdade, fiquei um pouco decepcionada.”
Na mesma hora, Ahin bateu a testa em uma árvore próxima. O hábito de bater a testa contra a parede ou uma árvore quando pensava que algo era muito engraçado não tinha desaparecido. Não era nada demais, mas as pessoas olhavam estranho.
“Ahin, pare com isso. Todos estão olhando.”
“Não seria estranho se não me olhassem?”
Ele desgrudou a testa da árvore e apontou para o tecido colorido que estava enrolado em sua cabeça. Então, o dedo passou a apontar os óculos escuros decorativos que cobriam seus olhos vermelhos.
“Eu mal consigo enxergar com esses óculos.”
“…”
Não tendo nada a dizer, olhei Ahin de cima a baixo e concordei em silêncio. Com um tecido estampado com flores na cabeça, ele não tinha como não chamar a atenção. Os óculos coloridos, um brinquedo de Russell, só pioravam a situação.
“É porque você se recusou a usar uma capa.”
“Porque a capa é de Vivi.”
Se ele usasse uma capa com capuz, poderia esconder o próprio rosto, até um certo ponto. Mexi no laço da capa que eu usava. Eu só tinha uma única capa de inverno no momento, porque já tinha enviado toda a minha bagagem para a mansão Grace.
“A carruagem está próxima, então aguente mais um pouco com o disfarce.”
“Eu tenho mesmo que ocultar minha identidade, quando a cerimônia de formatura é em dois dias?”
“Bem, isso…”
Estava prestes a cair na persuasão dele, mas neguei com a cabeça com firmeza.
“Por quê?”
“O vovô está se esforçando com os preparativos para a cerimônia. Se você for descoberto, todos os professores e nobres vão fazer um alvoroço querendo te ver, e a cerimônia vai virar um desastre.”
“…”
“Quero finalizar o meu discurso com inspiração. Para poder ficar orgulhosa de mim mesma.”
“Entendi. Bem, ao menos segure a minha mão.”
Ahin murmurou que eu nem mesmo tinha o levado para um tour pela Academia, mas gentilmente segurou minha mão.
“Quero ter uma conversa honesta com você.”
“Podemos fazer isso dentro da carruagem.”
Segurando a mão dele com força, fui puxando-o adiante. Ele parecia deprimido. Felizmente, as aulas tinham terminado, então o campus estava relativamente tranquilo. Além disso, ao contrário dos dias anteriores, onde um vento gelado tinha soprado, hoje estava ensolarado, apesar de ser inverno.
Enquanto cruzava o campus, olhei para trás para Ahin, que me seguia. Ver ele andando na Academia com o mesmo uniforme preto me fez me sentir estranha. Olhando o quão bonitinho era esse predador selvagem, que me seguia obedientemente sendo levado pela mão, pensei que estava ficando louca.
“Presidente, para onde está… ah?”
“Presidente, já almoçou… quem?”
“Presidente! Parabéns pela formatura… mas, quê?”
Os estudantes que me cumprimentavam se afastaram quando viam Ahin. Era um momento raro no qual seu rosto estar oculto fazia com o que os outros fugissem dele.
“Você é amiga de todos os estudantes daqui?”
Ahin, abaixando um pouco os óculos, olhou para as costas dos estudantes que fugiam e perguntou.
“Não é isso.”
“Todos estão te cumprimentando quando te veem.”
“Acho que se sentem confortáveis comigo porque sou uma mulher-besta lebre. Bem, e há o fato de que minha identidade não é conhecida…”
Ahin levantou de novo os óculos e sussurrou em meu ouvido.
“Vivi, você se lembra da primeira condição para ser um imperador?”
“A primeira condição para ser um imperador é ter um carisma que atraia o seu povo… Espera, por que, de repente?”
“…Estive pensando sobre isso ultimamente. Como Evelyn disse, será que você não é a reencarnação de um grande líder? A misericordiosa rainha Vivi?”
“Para com isso.”
“Mas, pense bem…”
“Não me envergonhe mais!”
Com o rosto vermelho, apertei a gravata do uniforme de Ahin. Enquanto brigávamos, ouvi o som de passos se aproximando. Girei para ver se era outro conhecido, mas logo franzi a testa.
“Ora, se não é a presidente. Hoje não está se escondendo nos arbustos, decidiu andar pelo caminho normal?”
Era um grupo de estudantes do clã das hienas que costumavam me provocar. Dei um passo para trás.
‘Eles costumam se reunir do outro lado do campus… Por que vieram para cá justo hoje?’
“Arbustos?”
Ahin, tendo escutado tudo, perguntou. Os óculos ainda atrapalhavam sua visão.
“Não é nada.”
Neguei com a cabeça, incapaz de admitir que, às vezes, eu pulava em arbustos para me esconder de estudantes predadores.
“Quem são esses?”
“Ah, é um estudante do clã das hienas que se candidatou a presidente do conselho estudantil, mas perdeu para mim. Desde então, ele e seus amigos gostam de tentar arrumar discussões comigo.”
“…”
“Está tudo bem. Eu sempre venço.”
Ahin, que estava em silêncio, deu um sorriso assustador.
“Você não mencionou nada sobre isso para mim.”
“Bem…”
É porque eu sabia que ele ficaria assim… Comecei a suar frio olhando para ele, cujo sorriso ia ficando cada vez mais largo.
‘Não consigo imaginar o que ele vai fazer…’
Era uma coisa boa que ele não tinha consigo a espada longa que sempre levava na cintura. Abri os braços para bloquear o caminho entre eles e Ahin. Claro, não consegui cobrir nem metade dos estudantes. Mas ainda assim, me estiquei tanto como pude e falei com firmeza para eles.
“Se afastem.”
Talvez meu tom de voz autoritário tenha sido ofensivo, porque os hienas começaram a rir. Era uma reação natural frente a uma pessoa que às vezes se transformava em lebre para fugir.
“O que é isso?”
O olhar deles caiu em Ahin, que estava atrás de mim. Como se estivessem sincronizados, as testas de todos se franziram ao mesmo tempo.
“Onde está aquele menino capivara irritante? Arrumou um novo guarda-costas?”
Os hienas procuraram por Russell, que sempre andava atrás de mim. Então, levaram um dedo à têmpora e giraram, indicando que Ahin seria louco.
“Não sejam grosseiros.”
Assim que pensei que Ahin poderia perder a paciência, também deixei de ser gentil.
“Não creio que vão querer tocar nessa pessoa.”
“Que ótimo, Vivi.”
Assim que acabei de falar, Ahin sussurrou atrás de mim, de modo que só eu pudesse ouvir.
“Uma Vivi poderosa assim não é nada mau.”
“Por favor, fique calado.”
“Sim.”
Corrigindo minha expressão autoritária, que quase tinha se desmanchado, olhei para os estudantes hienas.
‘Estão vendo? Não conseguem perceber só ao olhar para ele? Ele é assustador!’
Mandei um sinal com o olhar pela sobrevivência deles, mas os homens-besta hienas apenas comentaram sarcasticamente que meus olhos estavam muito arregalados.
‘Quando foi que eu arregalei…’
Envergonhada, murmurei algumas palavras incompreensíveis. Se ao menos eles não tivessem se aproximado em primeiro lugar… Mas agora não parecia que iriam desistir facilmente.
Como se fosse o prenúncio de um desastre, a distância entre nós foi diminuindo cada vez mais.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.