A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 155
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- Capítulo 155 - História Extra 1
Assim que a festa de chá acabou, Vivi olhou para o bebê pantera negra, que tinha ficado estranhamente manso em algum momento.
‘Será que ele se acostumou comigo e por isso está mais relaxado?’
No entanto, à medida que ela caminhava pelo campus, toda vez que um estudante do sexo masculino se aproximava, ele mostrava os dentes de modo ameaçador.
Quando ela retornou ao dormitório, já era tarde da noite. Ainda assim, ela preparou pilhas e pilhas de papéis e os colocou em cima de sua mesa. Como presidente do conselho estudantil, ainda tinha trabalho a fazer antes da formatura.
“Bem, tudo que falta agora são as questões da sucessão para o próximo presidente.”
Vivi alongou os braços doloridos. A formatura era ao mesmo tempo um evento triste e feliz. Sentindo-se conflitada, ela olhou para o bebê pantera, deitado em sua cama.
“…Tudo bem?”
Ele tinha os olhos entreabertos, mas ela não conseguia entender como ainda estava acordado. Apesar de ser um animal noturno, ele tinha andado com ela o dia todo e não tinha se cansado. Era bem diferente de Shu e Bion, que, quando eram menores, caiam adormecidos onde estavam, até mesmo com os olhos abertos.
“Você deve estar exausto.”
Vivi cobriu o bebê pantera, para incentivá-lo a ir dormir. Mas as patas de algodão negro empurraram as cobertas, teimosamente.
Vivi, não cedendo à birra, calmamente o cobriu outra vez. Ela queria que ele dormisse logo para poder voltar a trabalhar, mas, dessa vez, Ahin chutou o cobertor com as patas traseiras.
<Você tem que vir dormir, também.>
Ela tinha andado a Academia inteira, resolvido mil assuntos e agora queria virar a noite fazendo papelada? Ele não podia ficar parado vendo Vivi se esforçar tanto assim.
“Vai brigar outra vez?”
Chateada, Vivi colocou as mãos na cintura e falou com uma voz severa. Seu olhar por debaixo das sobrancelhas erguidas era afiado como uma lâmina.
“Eu sou muito assustadora quando fico brava.”
Infelizmente para ela, isso não era uma ameaça para Ahin, que pensava que vê-la zangada era emocionante. Incapaz de imaginar esse fato, no entanto, ela continuou com seu adestramento.
“Vá dormir.”
“Grauurr…”
Sem ceder, Ahin rugiu e bateu na cama com a cauda. Apesar de ser tão pequeno, ele ainda era um predador. Vivi acalmou sua raiva ao vê-lo tremer com o esforço.
“Por favor, durma…”
Vivi, que era assustadora quando brava, se rendeu bem rápido.
“Você tem que comer muito e dormir muito para crescer bem….”
Como se atendendo ao seu pedido, o bebê pantera negra se enfiou no cobertor e colocou apenas o nariz para fora. A ponta cor-de-rosa exposta era tão bonitinha que Vivi sentiu vontade de apertar.
‘Acho que todo bebê é fofo, seja de que raça for.’
Sorrindo sem perceber, Vivi se auto-censurou. Era difícil ficar brava com esse bebê, fizesse o que fizesse. Ainda mais porque seu comportamento lhe lembrava muito de Ahin.
‘Esse besta maldoso deve ter agido desse modo de propósito… era tudo calculado.’
Ela praguejou contra Ahin, que era lindo, não importa o que fizesse, enquanto afofafa o cobertor do bebê.
“Boa noite.”
Ele parecia adormecido. Tendo completado um objetivo, Vivi voltou para sua mesa. Era o começo da luta contra uma montanha de papelada.
Algum tempo depois, Ahin saiu do cobertor e saltou sobre a mesa. Mesmo sob a fraca luz da lamparina, as cartas que ele podia ver pareciam tediosas.
Seu olhar, passando pelos documentos, pousou na ponta da caneta de Vivi, que se movia rapidamente.
[Vivi.]
O nome que ela assinava no final de cada papel estava forte e claro. Ahin, observando o primeiro nome, sem ter um sobrenome depois, olhou para ela.
<Vivi… É verdade.>
Desde que tinha sido abandonada por sua família, ela às vezes hesitava quando ia se apresentar para alguém. A mãe dele tinha dito que ela podia usar o sobrenome Grace, mas Vivi nunca tinha feito isso, e ele só podia imaginar a razão.
Como ela estava na Academia, ou era porque queria ocultar sua relação com a família, ou era porque ainda não estava pronta para adotar o sobrenome. Ahin queria perguntar a ela imediatamente, mas o que sairia de sua boca seriam apenas miados.
<Que inútil…>
Ahin tocou a testa com a pata dianteira, imerso em angústia. Mesmo tendo relativa liberdade de movimento nesse corpo, ele tinha muitas dificuldades para se comunicar. Ele não sabia fazer mímicas com o corpo todo para expressar suas intenções, como Vivi.
Enquanto chegava à conclusão que ela era provavelmente uma gênia, a ponta da caneta tocou seu nariz.
“Saiu da cama?”
O rosto de Vivi apareceu na frente dos olhos de Ahin, sem que ele percebesse. O coração dele disparou. Era porque podia ver o rosto de Vivi muito mais de perto do que quando era humano.
Ahin se sentiu enganado por um momento. Talvez tenha sido inevitável, e não uma coincidência, que ele estivesse aos pés da coelha que tinha recolhido.
Quando a coelha sorriu para ele, com aquela cara, ele se perguntou que besta poderia resistir sem se render a ela.
Ahin, querendo expressar esses sentimentos transbordantes, andou pela mesa. Se fosse Vivi, como ela se expressaria? Pensando nisso, ele se lembrou de uma situação parecida que tinha acontecido antes.
“Por que não vai dormir?”
Naquele dia, era Ahin quem estava resolvendo uma papelada tarde da noite, e a coelha bebê estava em cima da mesa. A situação atual era exatamente igual, mas invertida.
Ele, então, se lembrou que, naquela ocasião, Vivi tinha formado um X com as patas dianteiras. Então, tinha derrubado tinta e virado uma coelha malhada. Apesar de ter sido um gesto trivial, ela pareceu estranhamente envergonhada depois, então ele se lembrava disso até hoje.
<Mas o que significou aquilo?>
Ahin, cruzando as patas na mesma pose sem pensar, finalmente compreendeu o significado do gesto. Era um coração.
<Oh… não creio…>
Essa coelha boba. Ahin, sendo atingido pelo gesto de muitos anos atrás, cobriu os olhos com as patas dianteiras. Ele queria cobrir todo o rosto corado, mas o nariz ficava de fora.
“Está ficando com sono?”
Vivi carregou um Ahin enfraquecido para a cama. Ele escorregou para o colchão, ainda incapaz de reagir.
“Mesmo quando falei que você precisava dormir para crescer, não quis me ouvir. Quando vai entender como eu me sinto?”
Ahin, ainda que não soubesse de nada mais, estava aos poucos compreendendo como Vivi se sentia.
***
A noite estava escura, e as janelas tremiam com a força do vento invernal.
Ahin acordou com o som de murmúrios. Seus olhos enevoados varreram o quarto, buscando a fonte do som irritante.
Logo, ele percebeu que Vivi estava suando frio e se contorcendo enquanto dormia.
<Vivi?>
O rosto dela, que ele podia ver sob a luz do luar, estava abatido. Ahin, que estava prestes a carregá-la nos braços no meio do pânico, parou.
<Ah.>
Se lembrando de seu estado atual só então, ele tentou erguer um braço de Vivi, mas era pesado demais para sua força patética. Então, ele começou a passar a pata dianteira na bochecha dela.
<Vivi, acorda…>
A bola de algodão pressionou o rosto dela. Mas, ainda assim, Vivi não se despertou e continuou gemendo. Ela se contorcia, dobrando os dedos dos pés e das mãos como se estivesse cortando algo com uma tesoura imaginária.
Ahin, preocupado, verificou o estado dos feromônios dela, tocando em seu pulso. Felizmente, não era um ataque de feromônios. Seria um pesadelo?
<…Vivi. Vivi!>
Ahin, ficando impaciente, estapeou a testa dela, cobriu seu nariz, e puxou suas bochechas. Mas ela não despertava. Tinha lhe restado apenas um recurso, o de arranhar, mas ele não queria fazê-lo. Parecia que ela estava tendo uma convulsão.
Quando ele decidiu sair e chamar um médico, ainda que sem saber como conseguiria, os olhos de Vivi se abriram.
“Aaaah…”’
Ela agiu como se estivesse sem ar, agarrando o próprio pescoço. Ela tocou na exata área que Ahin tinha mordido naquele dia.
<…>
Os olhos lilás claro, que tremiam como ondas, estavam desfocados. Após agarrar o pescoço por um longo tempo, como se quisesse verificar que ele ainda estava grudado, Vivi, dessa vez, agarrou o cobertor.
Cavando como se estivesse sendo perseguida, ela entrou completamente nas cobertas. Toda vez que seu corpo, enrolado numa bola, tremia, os lençóis brancos ondulavam junto.
Ahin, que tinha sido deixado do lado de fora, assistia tudo atônito. Ele podia imaginar o pesadelo que ela estava tendo sem precisar pensar muito.
As memórias terríveis de quase morrer naquele inverno, há alguns anos, tinham deixado esse pesadelo. Parecia que Ahin não era o único que tinha obtido um trauma naquele dia.
Ela esteve fingindo que estava bem, mas não estava.
As patas dianteiras dele, que estavam paradas no ar, não podiam alcançar Vivi. Na forma de uma pantera negra bebê, não tinha nada que ele pudesse fazer.
Será que Vivi, quando era um coelho bebê, tinha se sentido da mesma maneira, olhando para o portão da mansão? Ahin sentiu que o cobertor branco que o separava de Vivi era mais pesado e mais forte que o portão de ferro.
Foi uma noite na qual ele se sentiu completamente incapaz de fazer seja lá o que fosse.
***
Pababak.
Pés brancos chutaram o cobertor com força. Vivi, despertando e se dando conta de seus hábitos de sono tão cedo pela manhã, franziu a testa. O sol brilhava diretamente sobre seu rosto.
“Ugh…”
Depois de um momento, ela se levantou rapidamente. Foi porque se lembrou que tinha maus hábitos de sono e se perguntou se não teria ferido o bebê pantera enquanto dormia.
Os olhos dela varreram a área até encontrar a criatura adormecida no travesseiro. Era uma bolinha de algodão negro, enrolado e dormindo profundanete.
‘Ufa…’
Vivi, aliviada porque o bebê estava seguro, pegou algo úmido que estava em sua testa.
‘Uma toalha molhada…?’
Tuk. Tuk.
Gotas de água escorreram da toalha e caíram na cama. De onde tinha saído aquela toalha?
‘Eu peguei enquanto dormia?’
Agora que ela reparava, seu rosto estava molhado, como se a toalha tivesse sido colocada há pouco tempo. Intrigada pelo mistério, ela olhou para o travesseiro. Não havia ninguém mais que poderia ter feito isso além do bebê pantera negra.
‘Mas, como?’
Seria possível que o filhote tivesse ido até o banheiro e conseguido umedecer uma toalha? Sacudindo a cabeça perante a hipótese absurda, Vivi decidiu ir lavar o rosto para clarear a mente. Ela saiu da cama sem fazer ruído e, pegando uma toalha seca na prateleira, desapareceu no banheiro.
Os olhos de Ahin se abriram no segundo que escutou o click da porta.
<Ela parece estar saudável.>
Ele podia sentir que ela estava se alongando e fazendo exercícios dentro do banheiro. Suspirando de alívio, Ahin se espreguiçou.
<Essas patas…>
Tê-las era como estar sempre usando luvas bem grossas e peludas. Com uma expressão resignada, ele encarou as patas, molhadas por enxaguar a toalha.
Logo, ele ouviu o som de alguém batendo na janela.
<Aqui é o terceiro andar…>
Ahin girou o pescoço na direção do barulho, e ficou chocado.
Do outro lado do vidro, estava o rosto inexpressivo de Evelyn, o qual ele não queria ver nem em seus pesadelos.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.