A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 153
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- Capítulo 153 - História Extra 1
Ahin, que estava imerso na escuridão, abriu os olhos, devagar. Um barulho que parecia ser uma garrafa com líquido balançando o despertou.
“Acordou?”
Os olhos de Ahin se abriram, e na sua frente estava o rosto de Vivi. Mechas de cabelo branco caiam em cima dele e faziam cócegas em sua bochecha.
“Que susto eu tive quando você desmaiou de repente. O vovô te assustou tanto, a ponto de te fazer perder a consciência? Ou você odeia ser beijado?”
Beijo… Naquele momento, Ahin se despertou por completo, ao se lembrar do que tinha acontecido antes que ele desmaiasse. Quanto mais esfregava seu nariz com a pata dianteira, mais clara a imagem daqueles lábios se aproximando se tornava.
<Droga.>
Enquanto ele engolia os palavrões, percebeu que o cheiro dos feromônios de Vivi estava muito forte no ar.
<Este lugar é…>
Ahin notou onde estava só naquele momento, e seus olhos se arregalaram. Um quarto pequeno com uma cama de madeira. Era o primeiro e único dormitório de Vivi.
Se sentindo um pouco estranho, ele olhou ao redor. Cortinas escuras cobriam as janelas, e livros sobre como domar predadores se empilhavam. Na parede, duas adagas decorativas estavam penduradas – claramente um presente de Meimi.
Era um quarto que tinha sido montado e escolhido pela própria Vivi, contendo a sua essência.
Após olhar uma pintura mal feita de um coelho derrotando um monstro, uma obra de Russell, Ahin rolou na cama.
Era estranho que ele estivesse vendo tudo aquilo do ponto de vista de um animal, mas e daí? Ele gostava mais daquele lugar, cheio de traços de Vivi, do que de qualquer outro lugar no mundo.
Enquanto isso, ela olhava para o bebê pantera negra, que rolava sobre a cama.
‘Será que ele está saudável?’
O professor do departamento de veterinária tinha dito que ele só estava assustado, e, agora, ao despertar, o filhote parecia estar feliz, brincando sozinho.
“Como parece ter medo do vovô, vou te manter aqui até que possa decidir sobre um lar para você.”
Suspirando de alívio por ele parecer melhor, ela continuou a chacoalhar uma mamadeira de leite, contendo água e leite em pó para bebês. Ela tinha a obtido com o professor, que falou que o filhote em questão ainda estava na idade de tomar leite.
Quando voltou a ouvir o barulho do líquido sendo sacudido, os olhos do bebê pantera se voltaram para a mamadeira.
Vivi, vendo a desaprovação em seus olhos, colocou a mão na cintura, com uma expressão severa.
“Tem que beber todo o leite.”
Mesmo se ele se recusasse, ela ainda tinha que alimentá-lo.
“Se você ficar desnutrido, isso pode ser um grande problema.”
Vivi, ainda sacudindo a mamadeira, franziu a testa. O bebê, que antes estava deitado e rolando alegre, tinha se sentado e estava pateando a cama, expressando sua recusa.
Surpresa pela reação, pois ela havia criado a Shu e Bion, que nunca haviam agido desta forma, Vivi levantou a mamadeira acima do animalzinho.
O bebê pantera negra pateou a cama com as patas dianteiras outra vez e soltou um rugido fino.
‘Não basta ser mimado para comer, está até reclamando!’
Os olhos de Vivi faiscaram e ela agarrou a mamadeira.
“Não vem comer?”
O bebê pantera negra se esquivou da mão dela por segundos. Era um jogo de pega-pega além do comum, devido à velocidade envolvida na fuga.
“Você vai ser um pantera negra forte quando crescer, não vai?”
Vivi estava determinada a dar a mamadeira para ele, em nome de sua honra. Ela abriu os botões do paletó de seu uniforme. Era uma tática para aumentar sua mobilidade.
‘Agora…!’
Vivi se lançou para a frente e escorregou, batendo o pé na quina da cama e caindo de cara no chão com um ruído.
Ahin, que estava fugindo desesperado dela, a olhou no chão, surpreso. Devido a personalidade dela, ele pensou que ela se levantaria logo ou choraria de dor. Mas ela ficou deitada de cara no chão, sem se mover. E se ela tivesse batido a cabeça…?!
<Vivi!!>
No momento em que Ahin, que estava em pânico, correu para ela…
“Te peguei!!”
Vivi o agarrou pelas patas dianteiras, se erguendo do chão, com a testa vermelha do impacto. Em poucos segundos, ela havia enfiado a mamadeira na boca dele.
Ahin, aterrorizado, tentou lutar, mas não podia arranhar os macios braços de Vivi, que o envolviam.
“Se não beber tudo, vou te dar uma palmada no traseiro!”
Vivi, que tinha entendido errado e pensado que a fraqueza de uma pantera negra era seu traseiro, falou.
<Por favor, Vivi…>
Desta vez, nem mesmo a ameaça do traseiro pôde convencer Ahin. Ser beijado por Lillian não era o bastante, ele até mesmo tinha que tomar, nessa idade, uma mamadeira… Ele estava passando por uma das mais terríveis experiências de sua vida.
Fechando os olhos com força, Ahin desistiu da ideia de contar sua identidade para Vivi. Ele não conseguiria viver com a cabeça erguida se todas essas humilhações fossem reveladas.
***
O sol estava alto e o relógio apontava exatamente para o meio-dia.
Ahin, sentado ao lado da janela do dormitório, olhava para fora com uma expressão cansada.
Quando Evelyn viria resgatá-lo do sequestro, o retirando da toca da coelha? Apesar da espera, nem mesmo uma formiga, e muito menos Evelyn, tinha aparecido.
<Quero sumir…>
Se lembrando do que tinha acontecido nesse meio tempo, Ahin estremeceu. Uma bola de algodão negra bateu na moldura da janela com força.
Ele tinha dormido junto com Vivi, mas ser um bebê pantera negra não era o suficiente, ela ainda tinha dado outra mamadeira para ele de manhã, e o banhado, o que tinha sido humilhante…
Ahin, pensando em como estava sendo viver assim, coçou a bochecha com a pata traseira. Pensando bem, não era tão mau assim… Vivi trazia comida para ele e ser alimentado por ela pessoalmente era agradável.
“Bem, está na hora de sair.”
No entanto, havia uma diferença entre direitos humanos e os direitos de pantera, concedidos a um bebê pantera negra. Ahin, conflituado entre as vantagens e desvantagens de cada um, engoliu lágrimas amargas.
Se não fosse por essa coelha casanova que recolhia panteras negras, ele não teria que pensar nisso.
“Está se rebelando outra vez?”
Vivi riu, dando um toquinho na cabeça de Ahin. Que tipo de bebê pantera negra tinha olhos tão rebeldes? Enquanto ela vestia as roupas de cachorro para o inverno que tinha obtido, ele havia mostrado um olhar furioso e não cooperou nem um pouco.
Mas era estranho que, quando ela o carregava em um abraço, ele gentilmente a aceitava. Graças a isso, não havia nenhum arranhão nos braços de Vivi, apesar de ela ter lutado contra o bebê um dia inteiro.
‘Se eu esperar ele se acostumar, deve se acalmar. Mas, por que ele odeia tanto tomar banho e tomar mamadeira?’
Pensando que Ash também não gostava de água, Vivi concluiu que devia ser normal. Ela colocou o filhote em sua mochila, pensando em Ash correndo e evitando poças de água no jardim da mansão.
O bebê pantera, colocando a cabeça para fora da mochila, olhava adiante sem expressão.
Vivi abriu a porta do dormitório e, segurando as alças da mochila com força, saiu. Seu destino era o prédio da Academia onde ficava o departamento médico.
***
“Professora Janna!”
“Senhorita Vivi! Por favor, sente-se.”
Vivi, cumprimentando a médica, se sentou em um sofá de veludo.
Ahin saiu da mochila e olhou ao redor da sala, que tinha vários tipos de frascos à mostra. O local para onde Vivi tinha ido era o laboratório da Professora Janna.
“Um bebê pantera negra! Que fofo. Ash teve outro filhote?”
A Professora Janna, organizando papéis espalhados, perguntou.
“Não, ele não é de Ash… Por várias razões, estou cuidado dele temporariamente.”
“É mesmo? O que houve?”
As duas começaram a conversar sobre o filhote. Ahin, sentando no sofá, foi analizado por olhos negros que pensavam que, apesar dele ser menor que as outras panteras de sua idade, Russell havia sido igual, e hoje era um menino confiante.
<Há quanto tempo.>
Por um segundo se esquecendo que era um bebê pantera negra, Ahin arrogantemente levantou o queixo. Enquanto isso, Russell, que estava espiando pela borda do braço do sofá, tremeu.
‘Ele tem energias malvadas…’
Seu feromônio, que permitia ler as energias, indicou que esse bebê pantera era uma pessoa perigosa. Essa aura escura, fria e ameaçadora era, definitivamente… Tendo descoberto a identidade do filhote após uma olhada, Russell lambeu os lábios.
“Esse… não pode ser…”
“Russell, o que foi?”
Vivi, escutando ele murmurar, girou o pescoço. Se lembrando das habilidades de Russell só então, Ahin ficou de pé nas patas traseiras.
“Guerreira, esse bebê não é… Ele é…Ah!”
A boca de Russell foi tapada por uma bola de algodão negra, segundos antes de revelar a identidade de Ahin. Era a pata dianteira dele, que foi enfiada na boca do garoto bruscamente.
<Não fale nada.>
Lendo o olhar assustador do bebê pantera, Russell pulou nos braços da Professora Janna, como se fugisse.
“Professora Janna.”
“O que foi, Russell ?”
Ahin imediatamente fingiu ser um bebê calmo e sorriu. A professora, sem entender nada, pegou Russell no colo e deu tapinhas em suas costas. Ele continuava se escondendo, como um rato perante um gato.
“Ah, nada, só fiquei surpreso…”
Vivi, olhando para Russell e o filhote com suspeitas, suspirou. Panteras negras eram carnívoras, e capivaras eram herbívoros. Era curioso que o menino se desse bem com Ash, mas não seria estranho que ele temesse uma pantera desconhecida, ainda que fosse um bebê.
Pensando que compreendia esse sentimento, Vivi, simpatizando com o medo de Russell, puxou o bebê pantera para si e o abraçou.
“Perdão, Russell. Vou mantê-lo aqui, longe de você.”
“Guerreira, jogue-o fora. Ele é um monstro..”
Negando com a cabeça, Russell se agarrou à Professora Janna, como um coala em uma árvore. Com uma expressão confusa, ela falou.
“O que foi? Russell, quer sair?”
Russell insistiu que não queria sair, e ficou lá, firme. No fim, decidindo prosseguir com a conversa daquele jeito mesmo, a professora puxou um relatório.
“Os resultados estão prontos. Daquilo que a Senhorita Vivi me pediu outro dia.”
<Vivi pediu algo?>
Ahin esticou o pescoço, tentando ler os papéis.
<É essa a razão pela qual ela quis vir mais cedo para a Academia?>
O relatório não estava escrito na língua oficial do continente, mas numa linguagem antiga, usada por homens-besta do campo médico.
“Isso…”
Vivi, que ainda não tinha aprendido a língua antiga, franziu a testa. Ao contrário dela, que tinha uma expressão confusa, Ahin, que podia ler rapidamente, endureceu a cara.
[As possibilidades de ataques de feromônios em crianças que herdam feromônios de dominação.]
A Professora Janna abriu a boca com cuidado, olhando para Vivi.
“Definitivamente existem razões para se preocupar. Se o seu futuro filho vier a nascer com os feromônios do Lorde Ahin, poderia ser um problema.”
Vivi assentiu devagar, com uma expressão nervosa.
“E, se ele herdar os meus feromônios de cura, pode ter sua humanização definitiva atrasada, igual a mim…”
“Isso não vai acontecer. Para começar, a Senhorita Vivi foi afetada pelas drogas que consumiu quando era bebê. Além disso, a criança terá metade do seu sangue pertencente à linhagem de um líder de clã, e por isso deve ser forte o bastante para lidar com os feromônios de cura com mais facilidade.”
Pensando na força de Ahin, que era suficiente para esmagar um trilho de trem, ela assentiu com força.
“É verdade.”
“Por isso, não se preocupe sobre os feromônios de cura. Mesmo que a humanização da criança seja atrasada, será no máximo uns dias depois do aniversário de três anos.”
Ahin, tendo compreendido toda a conversa, esperou as palavras seguintes da professora Janna.
“O problema são os feromônios de dominação, que podem causar ataques. Não há muitos dados na Academia, porque a maioria das pessoas que possuem feromônios de dominação…Bem…”
“Eles… morrem…?”
“Sim.”
Vivi, sentindo um frio na espinha, sem perceber, apertou Ahin com mais força em seus braços. Graças a isso, sentindo uma pressão no estômago, ele começou a mover as patas traseiras.
“Enfim, vamos ao ponto principal. Se lembra que, na última vez, eu pedi para que você trouxesse um pouco de cabelo do Lorde Ahin?”
“Sim.”
Ahin, prestando muita atenção na conversa, se lembrou de um dia no qual Vivi, do nada, tinha aparecido, obcecada com o seu cabelo.
Ela disse que queria testar uma massagem capilar, mas tinha puxado seus fios com tanta força que seu escalpo tinha ficado esticado. Agora ele entendia a razão.
Ahin estreitou os olhos, se lembrando da dor de ter os fios arrancados, a qual ele tinha suportado calado, incapaz de recusar Vivi e sua obsessão estranha.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.