A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 149
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- Capítulo 149 - História Extra 1
A carruagem, tendo deixado a mansão Manionz, se dirigiu para a direção do território das panteras negras.
Enrolada em uma capa enorme, olhei pela janela, à medida que escurecia cada vez mais. A chuva, que antes era pesada, estava ficando cada vez mais fina.
‘Daqui a pouco vai parar de chover…’
Desviando os olhos da janela, olhei para cima, devagar. Tuk. Gotas de água caíram do cabelo molhado de Ahin e acertaram os meus olhos.
Os enxuguei com a barra da capa e olhei ao redor. Meimi, que deveria estar conosco na carruagem, não estava em lugar nenhum.
“…Ahin, e quanto à Meimi?”
“Eu a enviei de volta à mansão Grace, montada em Jane. Queria que alguém comunicasse à minha mãe o que aconteceu primeiro, só para garantir.”
O que ele queria dizer com “para garantir”? Mas não perguntei nada, porque era óbvio que ele não responderia. Julgando pela ira de Ahin mais cedo, estava claro que ele pretendia atacar a mansão Manionz e não se importaria em derramar sangue para me encontrar.
‘Talvez tenha sido uma coisa boa eu ter escalado aquele muro. Assim, ele me viu rapidamente.’
Dessa maneira, escapei de me tornar uma coelha esmagada no meio de uma luta de panteras negras e leões. Enquanto eu me estremecia tardiamente, ao perceber o perigo em que estive, Ahin perguntou imediatamente.
“Está com frio?”
“Não, não é isso.”
Respondi, evitando o olhar dele. Estava sendo sufocada dentro do colo de Ahin, toda enrolada em sua capa. Era impossível ter frio assim. Não conseguia nem mesmo mover as mãos, de tão forte que estava sendo abraçada.
Quando consegui girar o corpo ligeiramente, ergui as sobrancelhas de surpresa. Shu e Bion, que estavam sentados do outro lado da carruagem, nos encaravam fixamente. Parecia haver censura em seus pequenos olhos.
Até mesmo para os dois filhotes de pantera negra, que não sabiam de nada, nossa situação atual deve ter parecido bizarra. Fiquei tão envergonhada que abri a boca novamente.
“Ei…”
“Sim?”
“Por quanto tempo vamos permanecer nessa posição…?”
“Até chegarmos na mansão. Você pode se resfriar.”
Não consegui achar argumentos contrários, então assenti. Na verdade, ficar nos braços de Ahin, os quais eu não pude sentir por tanto tempo, não era tão ruim.
Lentamente, ele apoiou a cabeça em meu queixo. O interior da carruagem ficou imerso em silêncio.
Piscando, quebrei o silêncio com a pergunta que tinha desejado fazer todo esse tempo.
“…Ahin?”
“Sim?”
“Você está com algum desconforto em relação a mim?”
Ele não respondeu por um longo tempo. Enquanto eu esperava, nervosa, Ahin hesitou, abrindo e fechando a boca.
Com um certo medo de ouvir a resposta, abaixei o capuz da capa, para me esconder. O pelo felpudo que adornava o capuz cobriu por completo meu rosto.
“…No outro dia, Vivi falou que eu era louco.”
Logo, as palavras saíram, do nada.
“Eu vivi minha vida do jeito que eu quis, até agora. Mas, de repente, surgiram coisas que eu não podia ou não conseguia fazer, ainda que quisesse.”
“…”
“Isso começou quando eu te conheci.”
Devagar, Ahin levantou o capuz.
“Perdão por te deixar preocupada.”
A enorme mão colocou meu cabelo atrás da orelha, gentilmente. Então, Ahin beijou a palma da minha mão e sorriu suavemente.
Era um sorriso quebrado. Deveria dizer que, apesar de ele estar sorrindo, não parecia que estava? Apenas o olhei, e ele girou a cabeça para evitar meu olhar, o que era uma raridade. Sempre era eu quem fugia de seu olhar.
“Eu não te evitei de propósito, Vivi. É só que…”
“…Só que?”
“Desculpe, é meio difícil de explicar no momento.”
Ahin abaixou o rosto e tocou na minha mão gentilmente, como se ela fosse algo que iria desaparecer.
“Pensei que podíamos contar tudo um para o outro, sem esconder nada, mas às vezes não é assim. Por exemplo, Vivi não quer me dizer o porquê de estar indo para a Academia agora.”
‘Ele sabia o meu destino original?’
Essa besta esperta. Não queria demonstrar surpresa, mas fiquei boquiaberta sem perceber.
Era meio difícil falar que eu estava preocupada com os efeitos que os feromônios de dominação poderiam ter em nosso futuro filho… Talvez Ahin também tenha algo tão complicado de expressar como isso.
Enquanto pensava, algo surgiu em minha mente.
“Me diga o que está acontecendo e porque quer me deixar para trás. Pare de esconder as coisas de mim!”
Era uma memória da época em que Ahin me evitava para que eu não o visse tendo ataques de feromônios. Arregalei os olhos imediatamente, e o agarrei pelo colarinho com ambas as mãos.
“Você está tendo novos ataques…?!”
“Não é isso. Juro por sua vida de coelha.”
Ahin ergueu as mãos numa pose de rendição.
“Por que jura pela minha vida, e não pela sua?”
“A vida de Vivi é minha, e a minha vida é de Vivi. Então, posso apostar qualquer uma das duas.”
Apesar de achar isso um absurdo, fui convencida.
“…Tem certeza de que não sente nenhuma dor?”
“Posso jurar pela vida da coelha.”
Ahin, soltando minhas mãos que seguravam seu colarinho, girou e me abraçou. Eu não podia ver o rosto dele. Então, me sentei no colo dele, com a parte de trás da cabeça encostando em seu peito, e franzi a sobrancelha.
“Vou dar um jeito de conseguir voltar ao normal antes que o inverno termine.”
Ahin, apoiando o queixo no topo da minha cabeça, sussurrou. Bem, acho que esta generosa Vivi não tem opção a não ser esperar.
“Mas não me evite demais.”
“Sim, está bem. Seria difícil fazer outra invasão ao território dos leões depois.”
Logo, uma resposta engraçadinha veio.
“Você fala muito para quem me evitou por mais de um mês.”
O fato de que eu concordei em esperar não apagava a mágoa do passado. Então, afastei o braço que estava segurando minha cintura e empurrei Ahin, rapidamente.
Logo, ele estava sendo pressionado contra a parede da carruagem, com os olhos arregalados. Me aproximei do rosto de Ahin, até ficar tão perto que nossos hálitos se misturavam.
“Realmente não vai me evitar?”
“Não vou.”
Assim que Ahin respondeu, me inclinei e nossos lábios se tocaram e se afastaram. Depois de cometer esse ato ousado, perdi a confiança, então fiquei mexendo nas decorações na roupa dele.
“Mesmo se eu fizer algo assim?”
“…Por que eu evitaria isso?”
Ahin soltou um suspiro como se essa sugestão fosse realmente absurda. Graças a isso, minha coragem aumentou novamente, então voltei a beijá-lo.
Obviamente, tinha sido eu quem tinha iniciado. Mas de repente, ele inclinou a cabeça e aprofundou o beijo. Foi tão intenso que fiquei sem fôlego.
Quando sua mão sedenta pressionou a parte de trás do meu pescoço, afastei meus lábios.
“…Espera…”
Os olhos vermelhos entreabertos fizeram meu coração de coelha se estremecer. No entanto, resistindo à tentação, parei de pressioná-lo contra a parede e retornei a minha posição original.
“Por enquanto, você só pode me tocar quando eu disser.”
Um silêncio seguiu. Percebendo que estava sendo punido por minha vingança amarga, Ahin soltou um sorriso.
“Preferia que você me punisse me forçando a rastejar aos seus pés.”
“Você iria gostar disso.”
“Então, o que eu faço?”
“Fique na palma de minha mão.”
Ahin abriu a boca para protestar, mas parou. Pela cara dele, parecia que tinha pensado que estar na palma de minha mão era emocionante.
‘Louco…’
Me encostei em Ahin, relaxando o corpo, e murmurei.
“Não deixei de te dizer que ia à Academia de propósito. É que…”
“Vivi.”
“Hein?”
“Pode me contar quando estiver pronta.”
“Mas você não sabe o assunto…”
“Algum dia irá me dizer, não é? Está tudo bem, desde que não esteja me traindo.”
Por um momento, pensei em dar uma resposta, mas ignorei e continuei.
“Na verdade, pensei que Ahin estava me evitando porque tinha se cansado de mim ou algo assim.”
“Impossível. Morrerei antes de me cansar de você.”
Por que ele sempre ia a extremos, sem um meio termo? Inclinei a cabeça para ver o rosto bonito, que ainda estava molhado pela chuva. Os lábios pareciam mais vermelhos do que o normal, devido à palidez.
‘É possível alguém ser tão bonito assim?’
Pensando nisso, arregalei os olhos.
“Por que está me encarando, do nada?”
“Eu não..”
Era impossível negar a noção de que os predadores eram belos de propósito, para atrair suas presas. Ahin, me olhando de volta, pegou minhas bochechas e as esticou.
“A verdade é que eu estava preocupado que Vivi tivesse me abandonado e decidido se mudar para o território dos leões.”
Minhas bochechas estavam sendo esticadas enquanto eu respondia.
“E she foshe verdade, o que voshê faria?”
“…Só um pouquinho.”
“…Shó um pouquinho?”
“Eu teria enlouquecido.”
Vendo a luz nos olhos vermelhos por um momento, olhei para a parede, petrificada.
“Entendi…”
“Sim.”
A gentileza e a voz suave eram todas enganações. Ele era daquele jeito. Eu não ousava tentar imaginar o que aconteceria se essa besta ficasse ainda mais louca do que o normal.
“Haha…”
Depois de soltar uma risada sem alma, senti uma sensação de que algo estava faltando. É como se tivesse sempre existido uma mosca zumbindo em meu ouvido por muito tempo, mas que tinha ido embora.
Shu e Bion pareciam cansados, e estavam dormindo e babando, igual a Ash sempre fazia. Lile estava dirigindo a carruagem do lado de fora. Olhei ao redor e então tapei a boca com as mãos. Estava faltando alguém.
“Ahin! Deixamos Evelyn para trás!”
“Eu sei.”
“Você sabia?”
Ahin respondeu calmamente, esfregando o queixo em minha cabeça.
“Quando chegamos na mansão do leão, ele saiu do meu lado e se escondeu. Não fiz nada porque pensei que estava fugindo por ser covarde demais.”
Não acreditei nisso. Estava claro que Ahin tinha deixado Evelyn no território dos leões de propósito. Confusa, empurrei Ahin pela bochecha e olhei pela janela da carruagem. O território dos leões, onde Evelyn tinha sido deixado, estava desaparecendo rapidamente.
“Ele vai conseguir voltar sozinho?”
“Ele sempre volta sozinho.”
“Mas, ainda assim…”
“Ele vai montar nas costas de um leão ou algo assim e voltar para casa. Venha para cá, você vai se resfriar.”
Fui arrastada e, mais uma vez, presa entre os braços de Ahin.
Em conversas normais, ele e Evelyn se davam muito bem, mas, em situações de crise, abandonavam um ao outro em um piscar de olhos. Era uma relação que eu não conseguia entender.
***
Na Mansão Grace.
“Isso é uma abominação!
“Chef! O que é isso?!”
“Quem faria um bolo bizarro assim?! Quem colocaria o corpo de uma pantera negra na cabeça de um coelho?!”
“Isso é uma proposta para o bolo da festa de formatura da Senhorita Coelha. O Senhor Evelyn fez o pedido, especialmente…”
Era cedo de manhã, e um bico de pássaro surgiu e desapareceu como um raio num canto da cozinha agitada.
Quinn, que tinha conseguido roubar morangos no meio da confusão outra vez, cruzou os céus sobre a mansão Grace.
“Agradeço pela carona.”
Naquele momento, Evelyn, que tinha voltado à mansão montado em um leão, apareceu no campo de visão de Quinn. Ao contrário de sua aparência arrumada de sempre, ele estava em farrapos.
“Não… Agradeço por ter me trazido, mas não tenho carne para te dar… Ei, não pode comer minha mão, também!”
Evelyn lutava contra o leão, que tentava mastigar sua mão.
<Ele sempre se envolve nas coisas mais bizarras.>
Fazendo “tsk” com a língua, Quinn seguiu voando na direção do gabinete de Valence.
“Bom trabalho.”
Assim que viu Quinn pousado no parapeito da janela, ela sacou uma caixa contendo uma torta de morango. Era a recompensa pelo trabalho que ele tinha completado ao transportar em segredo uma pintura da coelha.
“Meu sogro roubou a pintura de mim. Quem diria… A mesma pessoa que, quando a viu lendo um livro pela primeira vez, quase desmaiou… Mas ninguém pode saber, ok?”
O negócio de trocar a pintura original da coelha lendo por uma réplica, com o pagamento em torta de morango de luxo, tinha sido algo mais sério que uma transação de documentos confidenciais.
Assim que Quinn agarrou a caixa e estava prestes a ir embora, Valence tocou na janela e falou, fazendo-o se deter.
“Recentemente, a mansão está tranquila. O número de cartas confidenciais para você entregar também diminuiu bastante. Deve estar entediado esses dias.”
Quinn parou de bater as asas e olhou para Valence. Não era à toa que eles eram parentes – ela tinha um olho tão bom quanto o de Ahin.
“Deve ser difícil para você passar tanto tempo sentado em uma árvore.”
Olhando pela janela, Valence sorriu de modo enigmático e estirou a mão. O vento frio soprou por entre seus dedos.
“Já faz 10 anos desde que você chegou à mansão. Não é tempo demais para um homem-besta águia que se recusa a ficar amarrado?”
Quinn, sem reagir, pateou a caixa com a torta. O olhar de Valence era tão penetrante que ele se sentia nervoso.
“Se decidir ir embora, é só me falar. Te darei o que quiser. Quero te recompensar por levar a coelha ao território dos porcos, naquele dia.”
Sem responder, Quinn assentiu e saiu voando.
<Hora de ir embora…>
Ele cruzou os céus, pensando nas palavras de Valence. Era verdade que ele frequentemente pensava em voar por todo o continente.
<Como a Senhora Valence falou, já faz 10 anos..>
Quando Quinn conheceu Ahin, ele era só um garoto. Mas, claro, já era arrogante o bastante para dar vontade de chutá-lo, mesmo nessa época.
“O Lorde Ahin salvou sua vida, e você não pretende oferecer nada em troca? Este Evelyn sugere que o pássaro faça algo para pagar o favor.”
“Como o quê?”
“Por exemplo, podemos colocar uma bolsa em você… E pode agir como um pássaro mensageiro. Por, digamos… 5 anos, mais ou menos?”
“Por ter me salvado desse gato?”
“Não é um gato, é uma pantera negra. Essa ingratidão machuca o coração deste Evelyn. Vamos estender o período para 10 anos, então.”
Imediatamente depois de ter sido salvo de morrer nas garras de Barra, Quinn havia começado a trabalhar. E os 10 anos de serviço prometidos estavam chegando ao fim.
Além disso, uma vez que Vivi se mudasse completamente para a mansão, a necessidade de ir e vir da Academia também iria desaparecer.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.