A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 146
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- Capítulo 146 - História Extra 1
“A irmã de Rune… a futura líder do clã?”
“Bem… sim.”
Reona Manionz. Estremeci ao me lembrar dos rumores, que diziam que ela socava primeiro e perguntava depois.
“Mas… Por que não posso deixar que ela me veja?”
“É complicado explicar. Mas, basicamente, a personalidade dela é igual a de Ahin Grace. Seria um problema se ela te achasse.”
“Como disse?”
“Seria um problema se ela te achasse.”
“Não, essa parte não.”
“…A personalidade dela é igual a de Ahin Grace.”
“Ai, meu Deus.”
Tapando a boca com as mãos, assenti. Não precisava dizer mais nada. Não queria encontrar outra besta como Ahin pelo resto da vida.
Precisava evitá-la a qualquer custo.
***
Na fronteira do território das panteras negras, Ahin, puxando as rédeas de Jane, olhou para o céu, onde o sol estava se pondo. Os cabelos prateados voaram com o vento frio.
“Parece que vai chover.”
“O tempo está ruim, de fato. Por esta razão, volto a perguntar por que estamos perseguindo a carruagem da Senhorita Coelha a cavalo.”
Evelyn, freando o seu alazão, perguntou, sem esconder sua insatisfação.
“Vivi esqueceu o livro que ela sempre leva consigo.”
Ahin sacou um livro de sua capa. O título era [Como domar um predador].
“A biblioteca da Academia deve ter várias cópias desse mesmo livro. Pode ser honesto e dizer que apenas quer uma desculpa para ir atrás da Senhorita Coelha.”
“Vou pedir desculpas.”
“Por que a evitou, em primeiro lugar?”
Ahin não respondeu, apertando os lábios. Ele tentou superar seu trauma sozinho, sem demonstrar que tinha dificuldades de se aproximar de Vivi. Mas, quando ele a via em sua frente, se sentia petrificado, como se estivesse enlouquecendo.
No entanto, se ela estava dormindo, ele conseguia tocar o seu rosto ou suas mãos. Até que o inverno terminasse, ele ficaria rodando entre a razão e o medo.
“Me diga a razão, meu Lorde. Buscarei uma solução. Se isso chegar aos ouvidos do Lorde Lillian, ele irá quebrar a própria bengala outra vez.”
Evelyn continuou falando, sem notar as sobrancelhas franzidas de Ahin.
“Não é presunção. Este Evelyn necessita saber o porquê.”
“Não, este Evelyn vai morrer se continuar se intrometendo.”
“Tem razão. Não há nenhuma razão pela qual eu precise saber.”
Evelyn, mudando de opinião em segundos, ficou em silêncio. Ahin, olhando seu rosto inexpressivo, passou a mão pelo cabelo, em agonia.
“…Se eu me ajoelhar perante ela, seria o suficiente?”
“Se ela ver umas lágrimas, sua raiva não iria se abrandar?”
Evelyn, que nunca tinha pedido perdão a ninguém na vida, pensou.
“É complicado, porque nunca briguei com uma amada.”
“Você nunca saiu com mulher nenhuma na vida, não é?”
“Minha beleza deve ser mantida como um bem geral da nação.”
Essa fala ousada não fez com que Ahin sequer erguesse uma sobrancelha. Ele encarou Evelyn. Na verdade, ele já estava ficando velho, e alguns nobres tinham vindo perguntar a ele, em segredo, se Evelyn não ia se casar.
“Você não quer conhecer ninguém?”
“Não é que eu queira. Mas, quem sabe… um dia.”
“Acha que é simples assim?”
“Lorde Ahin não contraiu a febre do coelho da noite para o dia, também?”
Como Evelyn tinha dito, ele tinha mudado ao conhecer Vivi. Sorrindo nem desmentir, Ahin, de repente, parou.
“Eu quero meu boneco de coelho!!”
Ele franziu a testa perante a memória que surgiu do nada.
“Meu Lorde?”
Evelyn chamou o nome de Ahin, que estava em transe.
“…Meu pai me deu um boneco de coelho quando eu era pequeno, certo? Quando foi isso?”
Evelyn franziu a testa ao ouvir a pergunta inesperada.
“Talvez depois que visitaram o território das lebres juntos? Creio que o Lorde Ahin retornou de lá com o boneco e não o soltou por muito tempo desde então.”
Os dois olharam um para o outro, pensativos, mas foram interrompidos por um gorila, que saiu correndo na direção deles, no meio da floresta.
“Tem gorilas selvagens aqui na floresta fronteiriça?”
“Não, meu Lorde, apenas panteras negras.”
“Então, o que é aquilo?”
“É uma pessoa… Ah, é Lile. A carruagem deve estar por perto.”
À medida que a distância diminuía, o rosto de Lile, manchado de lágrimas, ficava mais nítido.
Ahin teve um mal pressentimento e rapidamente se desmontou de Jane.
“Ah, Lorde Ahin!!”
“O que foi?”
Lile, indo para o lado de Ahin, mostrou um tecido preto. Era uma jaqueta de uniforme escolar da Academia Belhelm.
‘Não pode ser…’
Engolindo em seco, Ahin esperou que Lile se acalmasse para falar.
“Bem, teve um deslizamento de terra no caminho, então fizemos um desvio pelo território dos leões…”
Ele prosseguiu, contando que Vivi tinha perseguido Shu e Bion, que tinham desaparecido. E, enquanto Meimi e Lile corriam ao redor da área, os procurando, receberam um pássaro mensageiro enviado por Rune. A carta foi entregue a Ahin por mãos enormes e trêmulas.
Ahin agarrou o papel em segundos. Suas mãos escorregaram várias vezes ao desenrolar a carta.
[Se Vivi quiser voltar, a enviarei para você. – Rune Manionz.]
Lile leu o conteúdo da carta com o canto do olho e começou a chorar outra vez.
Ouvindo os soluços do outro, o coração de Ahin afundou.
***
Shu e Bion saltaram no túnel escuro. Era uma passagem secreta na mansão Manionz, que levava ao lado de fora.
‘Por que estou aqui, e por que tenho que entrar aí?’
Enquanto pensava isso, olhei para minhas mãos, e gritei para os filhotes, que se afastavam.
“Cuidado com as patas!”
“Vivi, você tem que ir agora mesmo?”
Rune, se agachando ao meu lado, falou, em tom de desaprovação.
“Já encontramos a carruagem e enviamos uma mensagem. Se você esperar escurecer, será mais fácil evitar os olhos de minha irmã e não seria necessário usar a passagem secreta.”
“Todos devem estar preocupados. E Shu e Bion não podem esperar até de madrugada para voltar.”
“Bem, Ahin Grace deve estar furioso agora.”
“Q-Quê?!”
Mudando se assunto, sorri e falei.
“Tudo bem me mostrar uma passagem secreta como essa?”
“Ela será demolida em breve, então está bem.”
Rune, me encarando, bateu palmas.
“Bem, primeiro temos que descer, mas é um grande salto. Eu te ajudo.”
Sem aviso, ele segurou meu braço e saltou, me levando junto.
“Ahhh!”
“Você não tinha medo de saltar na forma de coelha.”
Leão maldito. Fechei os olhos por reflexo enquanto me sentia cair.
“Vivi, pode abrir os olhos… Ai, meu cabelo, meu cabelo…!”
Ouvindo um grito de dor, abri os olhos. Parece que eu tinha aterrissado em cima de Rune e estava puxando seus cachos, sem perceber.
No momento em que afastei as mãos apressadamente , os olhos dourados que pude ver no escuro estavam desfocados.
Mesmo com a pouca iluminação do túnel, pude ver um brilho neles. Me levantei rapidamente e me afastei.
“Ah, m-me desculpe.”
“Não foi nada.”
Dando de ombros, Rune colocou um estranho capacete de metal em minha cabeça.
“Os filhotes estarão bem porque panteras negras enxergam no escuro, mas…”
Com um click, uma pequena luz se acendeu diante de meus olhos. Parecia um capacete usado por mineradores, para me auxiliar na passagem secreta.
“Não se esqueça, Vivi. Na bifurcação, vire a direita, entendeu?”
“Sim.”
“Bem. Estarei te esperando na saída do túnel.”
“…Rune, você não vem comigo?”
“Como eu falei, eu usava essa passagem quando era criança. Meu corpo não vai caber, de jeito nenhum.”
Alternei o olhar entre o corredor estreito e Rune, que eu tinha que erguer o queixo para encarar. É verdade. A entrada era tão estreita que Rune não seria capaz de passar, nem mesmo só os ombros.
“Você pode fazê-lo, não? A saída não fica longe.”
“Sem problemas.”
Assentindo com firmeza, me abaixei para engatinhar na passagem.
“Ah, esqueci de avisar, mas às vezes um fantasma aparece.”
Ele realmente acha que vou cair num truque tão infantil? Girei para ver Rune, que estava inclinado.
“Ah, posso fazer uma pergunta?”
“O que é agora?”
Se ele falasse besteira de novo, estava planejando chutá-lo. Ao decidir isso, girei.
“Toda vez que menciono o nome de Ahin Grace, uma sombra passa por seus olhos.”
“…”
“Vocês brigaram?”
Eu estava sendo tão óbvia? Abri e fechei a boca outra vez. O fato de ter sido descoberta num território estranho fez com que minhas emoções fluíssem, como ondas.
Estava me sentindo deprimida o dia todo por causa daquele pantera negro maldoso. Engoli em seco e mexi as mãos, sem falar nada.
“Você se lembra?”
Rune, que não tirou os olhos de mim, falou, devagar.
“Te falei que se você viesse ao território dos leões, não poderia mais sair.”
‘Não me diga que…’
Os sentimentos dele não tinham mudado, mesmo depois de anos? Depois de um longo tempo, consegui falar.
“A coelha que você estava levando… Por um momento, pensei que era uma mulher-besta lebre.”
“É uma lebre normal. Seria impossível que uma coincidência como a de Vivi e de Ahin acontecesse uma segunda vez.”
Sorrindo, Rune me ofereceu a mão.
“Essa é sua última chance de fugir antes do casamento.”
“…”
“Um leão não te serve por hoje?”
Sem conseguir dizer um “não” cruel, dei as costas para ele, sem falar nada. Depois de um tempo, girei ligeiramente, e Rune ainda me olhava.
“…Rune, quero perguntar uma coisa.”
“Diga.”
“Na verdade, nós só nos encontramos umas poucas vezes. Então, por quê…?”
Qual era a razão para ele gostar de mim por tanto tempo? Essa pergunta, que não foi pronunciada, ficou no ar.
“Bem, as coisas foram assim. Só passamos poucas horas juntos hoje, mas para mim, foi como se tivessem sido dias.”
Rune, tendo entendido perfeitamente minha pergunta velada, respondeu sem hesitar.
“Não acho que o número de vezes que você encontra com alguém seja proporcional ao que sente por essa pessoa.”
Rune, falando sem pausar, agitou a mão. Ele parecia tranquilo, ao contrário das palavras que dizia.
“Então, é melhor você se apressar e sair daqui. Vivi, os predadores são todos caprichosos. Nunca se sabe se poderei mudar de ideia.”
Ao ouvir essas palavras, comecei a mover meus pés. A passagem foi ficando cada vez mais profunda, e só olhei para trás quando Rune tinha desaparecido totalmente do meu campo de visão.
“Só passamos poucas horas juntos hoje, mas para mim, foi como se tivessem sido dias.”
Esse sentimento era familiar para mim.
***
Reona jogou o cabelo para o lado. Cachos cor-de-rosa, que se pareciam com os de Rune, tocaram seus ombros.
“Rune continua se recusando a casar, não é?”
Uma voz grave ressoou no gabinete.
“Estou preocupado. Ele é filho do líder do clã, mas só fica inventando desculpas. Tem até mesmo rumores correndo por aí de que ele não gosta de mulheres.”
Ezran, o avô materno de Rune, estava sentado no sofá, fazendo “tsk” com a língua. Reona, olhando a xícara de chá que ele parecia prestes a esmagar com suas mãos enormes, murmurou.
“A esse ponto, o rumor pode ser verdade.”
“Reona, você tem que fazer algo! Esse Rune…!”
“Algo? Como o quê?”
“…Você tem que conversar sério com ele.”
A voz de Ezran, que parecia preocupado, rachou. Reona, girando a caneta que segurava a mão, falou.
“Não se preocupe, o rumor é falso. Ele é só um pouco preguiçoso, e ainda tem aquela coelha dos Grace em seu coração.”
“Ainda?! O velho Lillian não para de buzinar no meu ouvido sobre como o casamento será nesta primavera.”
“Bem, você a conheceu, não é, vovô? Como ela é?”
Ezran, surpreendido pela pergunta inesperada, se lembrou de uma coelha branca chutando Ahin e Rune, e recebendo afeição cega de Valence. Ela tinha todo o real poder do clã das panteras negras em sua pata.
“Eu nunca a vi em forma humana. Odeio admitir, mas gostei dos olhos dela. Ela tem um bom temperamento.”
“Ah…”
“E acho que é forte também. Tive uma reunião com a líder Valence outro dia, e ela estava com a bochecha vermelha. Eu perguntei, e ela falou que chutes de coelho são bem potentes.”
“…Tem alguém nesse mundo capaz de chutar a Senhora Valence?”
“É o que estou dizendo. Creio que deviam estar treinando artes marciais juntas, talvez?”
Surpresa, Reona encarou Ezran, que tinha muitos músculos, apesar da idade avançada. Se até mesmo o seu avô a reconhecia, sem falar em Valence…
Pensando que queria fazer um juízo sobre a coelha por si mesma, Reona abaixou os olhos. Foi porque um ladrilho do chão estava tremendo, como se estivesse sendo empurrado por baixo.
“Esse ladrilho é…”
Os olhos de Reona se estreitaram. Era a saída de uma passagem secreta que ela usava quando brincava de esconde-esconde com Rune, quando eram crianças.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Ahh eu quero saber do casamento deles, não da irmã só rune
Geovane
Finalmente capítulo novo
Vanny
😃