A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 145
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- Capítulo 145 - História Extra 1
Piu, piu. O som dos passarinhos cantando me despertou do transe.
<Isso é…>
Uma árvore sobre a minha cabeça cobria o céu azul, e, na frente de meus olhos, uma campina verde se estendia.
Me sentindo sozinha na natureza, olhei vagamente para minhas patas dianteiras, sujas de lama. Como pude me perder no meio do território dos leões?
Engolindo em seco, relembrei os acontecimentos de meia hora atrás. Quando Shu e Bion – que estavam se escondendo no compartimento de bagagem – saíram correndo para a campina, o pensamento de que eu poderia perdê-los para sempre me fez perder a racionalidade.
Nesse momento, meu corpo desafiou toda a razão e saltei para fora da carruagem.
“Céus! Senhorita Coelha!!”
“Senhorita Coelha!”
Os gritos urgentes de Lile e Meimi passaram direto por mim. Me transformando em lebre para ter maior velocidade, comecei a cruzar a campina. Quando eu finalmente consegui alcançá-los e eles pararam, percebi que tinha ido tão longe que não dava mais para ver a carruagem.
<Vocês dois…>
Os encarei, zangada. Eles estavam chorando cachoeiras.
Paf. Paf.
<Por que fizeram isso?!>
Eles nunca tinham se escondido no compartimento de bagagem, então, por que hoje, de todos os dias? Recuperei o fôlego enquanto batia nos traseiros deles com as patas dianteiras.
Em primeiro lugar, tínhamos que voltar para a carruagem, o mais rápido possível. Mesmo que nos encontrássemos com leões, eu podia colocá-los para dormir. No entanto, não conseguiria controlar Shu e Bion, e sabe-se lá o que eles poderiam fazer, se colocando em mais perigo.
<…Não posso voltar à forma humana agora.>
Não podia andar nua no meio do mato. Enquanto pensava em como faria para encontrar a carruagem, ouvi algo se movendo dentro de um arbusto próximo. Coloquei as patas na boca e ergui as orelhas.
Seria um leão, se preparando para dar o bote na presa? Ou um grupo de leoas? Todo o tipo de hipóteses surgiram em minha cabeça.
Shu e Bion, que tinham parado de chorar, se esconderam atrás de mim e ficaram com os pelos arrepiados e as costas arqueadas.
Voosh, voosh.
Logo, o arbusto se abriu e uma pequena criatura pulou para fora. Nesse momento, parei de reunir feromônios nas patas para atirar.
<Isso… é uma coelha, certo?>
Bem, supus que só porque era o território dos leões, isso não significava que haveria apenas leões ali. Aliviada, olhei para trás de mim. Shu e Bion continuavam parecendo muito assustados, e tinham retrocedido mais ainda, se escondendo atrás de uma árvore.
<…?>
O que tinha de errado com eles? A coelha, na minha frente, bateu a pata no chão, irritada, olhando alternativamente para mim e as panteras, franzindo a testa.
Eles nunca tinham agido como se estivessem assustados com Ahin ou Evelyn antes. Por acaso não sabiam que estavam acima dos coelhos na cadeia alimentar?
<Onde vocês aprenderam isso?>
Eu não tinha ideia do que fazer com essas duas panteras negras, que tinham medo de coelhos. Vendo que os olhos de ambos tremiam, voltei a olhar para frente.
A coelha, agora que eu via bem, estava me observando com o que parecia ser desprezo. Quando eu a encarei de volta, ela me deu um tapa na cara com sua pata dianteira.
Paf!
<…Ela acabou de me bater?>
Enquanto eu estava atônita, ela deu outro tapa, e minha cabeça foi jogada na direção oposta. Que estranho… Por ser do clã das lebres, a maioria dos coelhos gosta de mim naturalmente.
<Está tentando ir contra a natureza? Não vamos brigar…>
Empurrei de leve a coelha com as patas dianteiras, para que se afastasse. Mas ela respondeu com outro tapa.
<…Eu não queria ter que fazer isso!>
Paf, paf.
Se iniciou uma batalha de patinhas brancas. Não pensei que iria me envolver em algo assim.
<Pare com isso!… Ai! Não creio que me estapeou!!>
Logo, começamos a rolar no chão, levantando poeira. Me esqueci completamente de minha dignidade.
“…Ei, o que isso?! Parem, vocês!”
Uma mão surgiu do nada e agarrou a coelha, a forçando a se afastar de mim. Recuperei o fôlego, olhando para a outra grande mão, que me bloqueava.
“Agora veio conquistar o território dos leões? ”
<…Quê?>
Eu conhecia aquela voz. Quando olhei para cima, vi cachos cor de rosa muito familiares.
“Ah, você está com uma sujeira no nariz.”
Assim que um lenço foi esfregado em meu nariz, me dei conta. Era Rune.
***
Na mansão Manionz.
Finalmente de volta à forma humana, vesti as roupas que Rune tinha deixado para mim. Era um vestido de cetim bem diferente e um cinto.
“….O que faço agora…?”
O lugar onde eu estava era um quarto de descanso, conectado ao gabinete de Rune. Em outras palavras, estava no meio do covil dos leões.
“Vivi, sei que está se esforçando, mas não tenho ideia do que está tentando dizer.”
Na forma de lebre, não consegui explicar a situação. Por isso, Rune me trouxe para a casa dele, para que eu pudesse me humanizar.
“Hmm…”
Olhando ao redor, nervosa, apertei bem o cinto. A primeira coisa que eu tinha que falar era sobre a carruagem, que ficou na campina, e avisar à casa Grace que eu estava ali. Enquanto pensava nisso, voltei os olhos aos causadores de tudo.
“Shu, Bion.”
Os filhotes, que estavam se escondendo atrás de uma cortina, colocaram as cabeças para fora, espiando. Eles pareciam muito medrosos desde aquela hora. Os mesmos Shu e Bion que sempre atuavam como os donos do pedaço, mesmo na frente do chef de cozinha.
“Foi por causa daquela coelha?”
Talvez eles ainda estivessem com medo dela. Me aproximei, me ajoelhando perto deles.
“Não se preocupem. Coelhos não comem panteras negras.”
Explicando a relação entre coelhos e panteras, segurei as patas dianteiras de Shu e Bion.
“Escutem, o problema agora não é a coelha, e sim o fato de que não tem ninguém do nosso lado aqui.”
Não importa que sejamos amigáveis um com o outro, estávamos na mansão do líder de outro território, e isso me trazia ansiedade.
“Rune ajudaria se pudesse, mas ele é preguiçoso demais para confiarmos nele.”
“Sou preguiçoso? Diz isso por causa dos meus olhos?”
“Isso mesmo.”
Respondendo por reflexo, me petrifiquei. Quando girei o pescoço na direção da voz que tinha ouvido, pude ver Rune, encostado na porta. Ao contrário das vezes que o tinha visto em outros territórios, hoje ele estava usando um traje tradicional do clã dos leões, com um cinto parecido com o meu.
“Quando te encontrei na campina, você me olhou como se fosse o seu salvador.”
“…”
“Não fale mal do meu rosto depois que eu te ajudei.”
Franzi a testa, olhando para ele, curiosa. Não estava vendo a coelha que tinha duelado comigo. Rune, notando meu olhar, inclinou a cabeça para o lado.
“Pensei que esses filhotes de pantera negra pareciam assustados. Por isso, deixei a coelha com os criados.”
Se aproximando, ele se ajoelhou junto aos dois. Shu e Bion se estremeceram, e começaram a mostrar os dentes para ele.
“Eles se parecem com aquela pantera negra que costumava te seguir.”
“É porque os dois são os bebês de Ash.”
“Eles são grandes demais para chamar de bebês. Ei, Restin.”
Rune, ainda olhando para Shu e Bion, estalou os dedos. Logo, Restin apareceu na porta. Ele parecia alerta.
“Me diga o porquê de esses dois estarem tão assustados.”
“Eu? Não, meu Lorde. Não gosto de usar meus feromônios, como bem sabe.”
Restin recusou, movendo seu monóculo.
“Além disso, nada de bom acontece quando nos envolvemos com essa coelha.”
“Ei, isso…!”
“N-Não se aproxime de mim!!”
Eu comecei a protestar, mas parei. Ele tinha razão. Quando alguém se envolvia comigo, pessoas estranhas como Ahin e Evelyn naturalmente chegavam depois.
“Restin.”
Quando Rune falou com firmeza, o secretário eventualmente cedeu e se aproximou de Shu e Bion, os encarando.
“…Parece que eles têm medo de serem abandonados.”
“Como você sabe disso?”
Pensei que Rune tinha falado para ele interpretar de brincadeira. Meus olhos tremeram. Rune, apoiando o queixo nas mãos, explicou.
“Os feromônios de Restin permitem que ele se comunique com qualquer animal, até um certo ponto.”
“É um feromônio inútil, meu Lorde. Quase nunca o uso.”
“Bem, é porque os animais não gostam de você. Pensam que você é sujo.”
“C-Como assim, sujo?! Sou eu que não gosto deles!!”
Arregalei os olhos ao perceber que ele, o tempo todo, tinha feromônios sobre os quais eu apenas tinha lido em livros.
“Entendi…”
Nesse momento, percebi porque Restin me evitava. Ele tinha pensado, por muito tempo, que eu era um animal, e deve ter ficado bem relutante por ser incapaz de se comunicar comigo.
Olhei para Shu e Bion, apressada. Os dois ainda estavam com a cauda abaixada e parecendo assustados.
“Como assim, medo de serem abandonados? Por mim? Foi por isso que se esconderam na carruagem?”
Sacudi as patas deles, como num interrogatório.
“Senhor Restin, envie uma mensagem para eles por mim.”
“O que deseja dizer?”
“Que eu jamais irei abandoná-los.”
“E-Está bem, mas não precisa se aproximar de mim.”
Que leão covarde. Enquanto eu estreitava os olhos, Restin usou seus feromônios para se comunicar.
“Vocês tem que prometer espalhar pétalas de flores no seu casamento e proteger meu futuro filho ou filha quando nascer.”
Murmurei essa parte para que só Restin ouvisse, e olhei para Rune.
“Você escutou isso?”
“Não pude ouvir, você falou muito baixo. Algo sobre um futuro filho?”
Ele tinha escutado cada palavra. Me senti envergonhada perante os olhos dourados. Será que ele ainda tinha sentimentos por mim? Me sentia mal, pensando que Rune tinha escutado sobre o casamento, que se aproximava.
“Vivi.”
Rune, me olhando, falou.
“S-Sim, pois não, senhor?”
“Por que está usando honoríficos, do nada?”
Quando eu estava nervosa, às vezes fazia isso. Envergonhada, coloquei as mãos no colo. Ele segurou uma mecha do meu cabelo, que tinha caído para a frente.
“Você não mudou nada. Continua igual.”
O olhei de volta, com a mente em branco. Quando o clima estava começando a ficar estranho….
“Com licença.”
A cabeça de Restin surgiu no meio de nós dois.
“Já resolvi o mal entendido sobre o abandono, mas esses dois dizem que ainda precisam se livrar do subordinado.”
“…Subordinado? Quem?”
“Não sei. Mas disseram que ele é uma pedra em seu sapato.”
“Falam de Evelyn?”
“Faz sentido. Ele é bem irritante.”
Pela primeira vez em perfeita sincronia, eu e Restin assentimos. Eu ia falar mais, mas olhei pela janela por um momento. O céu estava cinzento e parecia que ia chover.
Rune, olhando para fora também, massageou as têmporas.
“Vivi, já enviei uma mensagem para a mansão Grace. Mesmo que não faça nada, Ahin Grace deve aparecer correndo.”
Estremeci ao ouvir o nome de Ahin. Recentemente, ele estava me evitando, e uma ansiedade surgiu em minha mente.
‘Talvez ele não venha me buscar.’
Com esses pensamentos negativos, me senti deprimida sem perceber.
“O que foi?”
Rune perguntou, e eu cerrei os punhos. Eu voltaria de qualquer jeito, nem que fosse sozinha.
“Não é nada. Só pensei que deveria voltar antes que todos fiquem preocupados.”
“Ah, sim… Você tem que voltar. Não é bom ficar aqui por muito tempo.”
Rune falou com uma rara expressão envergonhada. Franzi as sobrancelhas.
“Sinto muito, Vivi, mas tem uma coisa que eu não te falei. Só me lembrei depois de já ter te trazido para cá.
“…O que é?”
“Quando você estiver saindo da mansão, tem uma pessoa com quem não deve se encontrar, de jeito nenhum.”
Quem? O líder do clã dos leões? Ali era a mansão Manionz, ou seja, o covil do líder do clã. Eu serei, em breve, uma membra da família Grace. Encontrar com outros líderes de território era parte de minhas tarefas diplomáticas, então, eu tinha que ter cuidado.
Logo, Rune, que hesitou por um tempo, falou.
“É a minha irmã.”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Gabriela
Quero mais
Geovane
Depois de duas semanas sem novas atualizações eu posso enfim descansar.