A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 144
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- Capítulo 144 - História Extra 1
“E você a aceita como sua esposa, para te acompanhar o resto de sua vida…”
A cerimônia estava na metade, e o discurso do oficial do templo não terminava nunca.
Valence, ocultando seu tédio, olhou para Lillian, que estava sendo contido pelos nobres ao seu redor.
“Me deixem passar, seus cretinos!”
Ele estava furioso pelo posto de marido da líder do clã ir para seu filho, e dizia que isso arruinaria o território das panteras negras.
“Eu tenho que impedir esse casamento! Me soltem!!”
“Lorde Lillian…!”
No fim, antes que a cerimônia terminasse, ele desmaiou, cuspindo espuma. Valence desviou o olhar e se focou no homem que se tornaria seu marido. Ela teve que erguer o queixo devido à diferença de altura, e observou o rosto que diziam ser o homem-besta mais belo de todo o continente.
Edith a olhou com uma expressão misteriosa, como se tivesse muitas histórias ocultas por trás de sua reputação. Valence, olhando aquela aparência que não parecia real, se perdeu em pensamentos.
“Você vai se casar. Comigo.”
Quando ele tinha aparecido do nada e dito coisas loucas, ela pensou que ele devia estar bêbado. Mas, pensando melhor, não havia nenhum homem mais adequado às condições que ela traçou do que Edith – além disso, apesar de ter efeitos desconhecidos, ele até mesmo tinha um feromônio poderoso, chamado de feromônio de dominação.
“A minha situação atual é um pouco desesperadora.”
A proposta de Edith tinha circunstâncias especiais. Se Valence o nomeasse como candidato a noivo, isso iria impedir que ele fosse enviado para se casar com a líder do território das raposas.
Ele se livraria do casamento indesejado com uma única palavra de Valence, a líder do clã. A razão pela qual Edith não iria querer ir para lá também era clara, já que a futura líder do clã das raposas não era conhecida por ser uma pessoa fácil.
“Não quero viver uma vida sem nenhuma liberdade.”
Ele falou isso devagar, como se refletisse o que ela própria vivia.
“Por que está me olhando assim?”
Percebendo o olhar dela, debaixo do altar, Edith perguntou, sussurrando. Ela mentiu sem hesitar.
“Porque você é bonito.”
“Sei que você gosta do meu rosto.”
Tudo tem limites, inclusive a autoestima. Sem conseguir esconder a expressão de desagrado por um instante, Valence apertou os lábios.
Edith sorriu ao ver a expressão honesta dela, a qual ele nunca tinha visto antes na forma humana. Em vez de se envergonhar pelo riso dele, ela abaixou os olhos, devagar.
Desde a primeira vez que tinha o visto, até recentemente, a razão pela qual ela se sentia desconfortável perto dele era seu sorriso pretensioso, que era difícil de decifrar. Estranhamente, no entanto, ela não se sentia irritada agora.
Quando o discurso do oficial do templo finalmente terminou, o som de palmas e gritos das pessoas do território ressoou. Parada debaixo da chuva de pétalas brancas, Valence sussurrou.
“Mantenha sua palavra. Nada de ter sentimentos um pelo outro.”
“Você quem manda.”
“…Parando para pensar, não estabelecemos uma punição para caso alguém descumpra essa cláusula.”
“Ah.”
Edith franziu a testa. Valence, esperando uma resposta, acenou para as pessoas que comemoravam.
“Como eu disse, meu objetivo é fazer o território ser mais forte que qualquer outro. Por isso, se você causar problemas com emoções desnecessárias…”
“…”
“Pode ir embora. Naturalmente, depois de gerar um herdeiro.”
Após dizer isso, Valence girou o pescoço e olhou para Edith. Ele estava olhando-a com uma expressão difícil de entender. Finalmente, os olhos vermelhos por debaixo dos cabelos loiros se curvaram num sorriso.
“Está bem.”
Ela se perguntou por que, naquele momento, se lembrou do pantera negra que costumava encontrar na floresta fronteiriça.
Só muitos anos depois Valence descobriu que o pantera era Edith.
***
Depois de falar do passado por muito tempo, Valence colocou uma mecha prateada atrás da orelha. Ela não queria dizer que ele fosse embora para um lugar onde ela nunca mais poderia vê-lo.
“Eu provavelmente feri muito o seu pai sem perceber.”
Ahin piscou sem expressão após ouvir a história inimaginável. Valence continuou, dando as costas ao filho.
“A única coisa que sobra quando se fere alguém é arrependimento.”
Ahin, saindo de seu estado petrificado, começou a rolar Vivi, que ainda dormia, no cobertor. Graças a isso, o corpo de Vivi, que só vestia uma camisola, ficou parecendo uma lagarta no casulo.
Carregando a crisálida gigante de algodão, Ahin começou a caminhar para a porta.
“Mas, mãe…”
Ele parou e falou, sem olhar para trás.
“Você se apaixonou pelo meu pai?”
“….”
Valence, que não conseguiu dizer que queria o cobertor de volta devido à situação, cruzou os braços.
“Não imaginou que ele poderia se apaixonar por mim, em vez disso?”
“Se for você, não posso imaginar tal coisa.”
“Que cruel. Como fala assim com sua própria mãe?”
“Vamos deixar essas conversas inúteis de lado.”
Por alguma razão, ela não conseguia responder que sim, e que permaneceria assim pelo resto da vida. Um sorriso leve surgiu em seus lábios.
“Ainda sou.”
Era uma resposta curta, mas pesada.
Ahin, após sair do quarto de Valence, caminhou lentamente pelo corredor. Ele não podia se esquecer que só tinha passado poucos anos de sua infância ao lado de seu pai. Por isso, não podia ousar julgar a decisão de Valence de permanecer no mesmo lugar, carregando a tristeza de perder o seu amado.
O olhar de Ahin lentamente pousou no rosto de Vivi.
‘Quando ela acordou?’
Suas habilidades de atuação eram, como sempre, péssimas. Ela franziu o nariz, fingindo dormir. Como se não tivesse percebido, Ahin olhou pela janela. Flocos de neve caiam, cobrindo o jardim escuro.
“Ahin, por que você tem estado me evitando esses dias?!”
Ele sabia que tinha muitas desculpas que podia dar para escapar do interrogatório de Vivi. Mas seu rosto pálido não tinha sido capaz de inventar sequer uma desculpa, que dirá uma mentira.
“A única coisa que sobra quando se fere alguém é arrependimento.”
Os olhos lilás claro, tremendo como ondas, não saiam de sua cabeça. Nem o gesto de estapear sua mão estendida ou fugir dele.
Ahin, abaixando o olhar, se focou no pescoço de Vivi, que estava escondido no cobertor. Ele ainda podia se lembrar de tê-lo tocado casualmente, outro dia.
As marcas de seus caninos tinha desaparecido, mas ele não podia negar que o ferimento tinha sido feito por ele.
Seus dedos estremeceram. A Vivi à beira da morte apareceu em sua mente com clareza.
“Quando me despertei, estava quase curada.”
Vivi tinha teimosamente dito que estava bem, mas Ahin ainda não estava.
“…”
A neve branca, refletida nos olhos vermelhos, caia pesadamente. Por mais um tempo, ele continuou tendo medo de se aproximar de Vivi durante o inverno, e passou a odiar essa estação do ano.
***
Clack, clack.
A paisagem vista pela janela da carruagem mudava rapidamente. Olhando para fora com o queixo apoiado na mão, me lembrei da noite passada.
Uma conversa entre a Senhora Valence e Ahin, que secretamente me carregou de volta para o quarto após eu ter fugido de casa. Quando acordei de manhã, após ter dormido de novo, estava sozinha.
“Ahin, por acaso está sentindo marriage blues?”
Será que o problema dele realmente era essa depressão pré-casamento? Perdida em pensamentos, ouvi a voz de Lile, do assento de cocheiro.
“Senhorita Coelha, tudo bem mesmo sair sem se despedir do Lord Ahin?”
“Só vou dar uma passada na Academia.”
Minha voz saiu quebrada de emoção sem querer. Tossi para disfarçar e acrescentei.
“Ahin também tem momentos nos quais prefere ficar longe de mim.”
“Não acredito.”
“Como?”
“O Lorde Ahin não é esse tipo de pessoa… Será que ele está doente?”
Lile parecia arrasado. Suspirei pesadamente.
“Ahin é uma besta delicada. Não tenho opção a não ser esperar pacientemente, como uma adulta.”
Ignorei a ansiedade que crescia. Estava preocupada que ele pudesse estar cansado de mim. Afastando os pensamentos complicados, mudei de assunto de maneira óbvia.
“A propósito, Lile. O compartimento de bagagem parece estar bem cheio hoje.”
“O Lorde Lillian está na Academia, então, já que estamos indo para lá, trouxe algumas sacas das maçãs preferidas dele.”
“Entendi.”
“Mas o que a Senhorita fará na Academia? A formatura será em breve, então não há mais aulas.”
“Vou conversar com a Professora Janna.”
Mexendo na capa que usava em cima de meu uniforme, pensei no problema que mais me preocupava.
Estava animada pela minha formatura e pelo casamento. Mas não podia parar de pensar na criança que nasceria de mim e de Ahin.
Seria um problema se ela herdasse os feromônios de dominação de Ahin, mais ainda se a sua forma verdadeira fosse a de um herbívoro, caso puxasse a mim.
Claro, eu podia suprimir ataques de feromônios com meus poderes curativos, mas o problema é que a criança ainda assim poderia vir a sentir dor. Além disso, estava com medo de os poderes serem fortes demais para ele controlar.
Pensei em discutir isso com Ahin, mas, conhecendo sua personalidade, ele diria algo como “é meu filho, vai se virar.” Por isso, resolvi pedir conselhos à professora Janna, que sabia toda a história.
Enquanto eu pensava isso, a carruagem, que estava desacelerando, parou. Lile apareceu na janela que ligava o assento do cocheiro ao interior.
“Senhorita Coelha, há um problema.”
“Como assim?”
“Houve um deslizamento de terra na estrada que leva à Academia. É mais seguro mudarmos de rota.”
“Ah, então faça isso.”
Se havia perigo, era óbvio que deveríamos tomar outro caminho. Os olhos de Lile tremeram ao responder.
“A outra opção é cruzar as planícies do território dos leões. Assim chegaríamos a Belhelm… Está bem?”
“Território dos leões…?”
Meus olhos imitaram os dele, tremendo violentamente.
“E se um leão aparecer no meio do caminho?”
“Isso…!”
Lile tapou a boca com as mãos, ocultando sua enorme cara, que era mais assustadora que um leão.
“Senhorita Coelha.”
Nós dois, petrificados, viramos os olhos para Meimi, que tinha falado. Ela tinha ido junto como minha escolta.
No meio do silêncio, ela sacou uma adaga do avental. Era um sinal que ela não teria problemas em se livrar de um ou dois leões.
Eu e Lile assentimos, tranquilizados pela presença reconfortante dela. A carruagem seguiu adiante pelo território dos leões, sem parar por nada.
Balançando as pernas nervosamente, olhei pela janela. Quando percebi, a paisagem era uma vasta planície, e tínhamos entrado no território.
“Venha visitar o território dos leões. Ah, mas tem leões selvagens nos campos.”
De repente, o rosto de Rune, que tinha falado sorrindo, apareceu em minha mente. Será que ele tinha falado aquilo só para me assustar? Fechei as cortinas rapidamente, criticando Rune internamente.
Meimi me encarava enquanto eu sorria constrangida, escondendo que minhas pernas ainda tremiam.
Eu já era uma pessoa há um bom tempo. Não devia mais ter medo de leões…
“Meimi, tem alguma coisa se mexendo…!”
Nessa hora, a carruagem se sacudiu violentamente, e me agarrei em Meimi.
“Posso sentir um movimento vindo do compartimento de bagagem!”
Meimi, que já tinha sacado uma adaga, estreitou os olhos.
“…O compartimento de bagagem…”
Lile não disse que tinha colocado maçãs ali? Talvez, semelhante a Ash, os leões gostassem de comer maçãs…?
Enquanto minha imaginação corria, me aproximei da janela devagar e chequei o compartimento de bagagem, com cuidado.
E assim que abri a cortina, vi duas bolinhas de pelo negro correndo para longe.
“Tem panteras negras vivendo nas planícies do território dos leões?”
Ou eram gatos pretos grandes? Franzi a testa, olhando sem expressão para eles. A fita amarrada no rabo do filhote à direita definitivamente era igual à que eu amarrei em Bion.
Fiquei em silêncio enquanto percebia que Shu e Bion tinham vindo conosco escondidos no compartimento de bagagem, e tinham acabado de sair da carruagem e correr para longe.
“Não acredito…!”
Esses encrenqueiros estavam soltos num lugar cheio de leões! Era óbvio que dois filhotes de pantera negra, que ainda nem sabiam rugir, seriam comidos.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Queria saber como a Valence se apaixonou pelo Edith, pena q não mostrou ;-;
E Vivi se preocupa não seu baby com certeza será foda
Undy
Ahin, eu te amo. Mais as vezes(quase todas as vezes) eu tenho vontade de te chutar forte na bunda.
Amei a história de Valence
Geovane
Agora eu quero saber mais da história da Valence.
Obrigado pelo capítulo.