A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 125
Enquanto eu dizia “oi” com todo o meu coração e alma, franzi a testa. Foi porque Ahin estava parado, parecendo uma das estátuas da Academia. Ele apenas piscava os olhos vermelhos, sem expressão.
Eu sabia que ele ficaria chocado, mas por que não parecia feliz em me ver? Quanto mais tempo passava em silêncio, menos confiante eu ficava.
Por que isso sempre acontecia comigo? Fechando a cara, resolvi sair da cama e ir embora, quando percebi que não usava roupas por debaixo do lençol.
‘Ah, eu estou pelada…!”
Fiquei tão chocada que gritei por reflexo, puxando o cobertor. Então, em vez de ir embora, como tinha planejado, não tive opção a não ser me enterrar mais na cama, deixando só os olhos de fora.
Meus olhos trêmulos encontraram os de Ahin, que estava ali, sentado, mas, devido ao meu tremor ocular, parecia estar no meio de um terremoto.
Então, tuk, tuk. Lágrimas começaram a cair dos olhos vermelhos e escorrer pela bochecha de Ahin. Marcas da água fluindo se formaram nas bochechas macias.
“…”
Eu esfreguei os olhos e chequei novamente, mas as gotas penduradas no queixo dele não eram uma ilusão.
Me sentei na cama apressadamente, segurando o lençol na altura do peito.
“…Ahin, você está chorando?”
Nem eu estava chorando, por que ele chorou? Então, sentindo meus olhos arderem, mordi os lábios para não começar.
Estiquei a mão livre e toquei o rosto dele. A água umedeceu meus dedos trêmulos. No entanto, assim que enxuguei as lágrimas, veio uma nova enxurrada, e percebi que era um trabalho inútil.
Ahin, de repente se despertando, afastou a minha mão com um tapa e inclinou o rosto para longe. Então, ele cobriu a boca com as costas da mão.
“…Não me toque.”
Surpreendida pelo tom hostil, desisti de esticar a mão outra vez. Não consegui detectar nenhuma alegria pelo reencontro nos olhos vermelhos e densos. Por um momento, não consegui entender a atitude de Ahin, que estava cobrindo metade do próprio rosto.
Como um panorama, as cenas do tempo em que passamos separados passou em minha mente. Não era como se eu tivesse passado esse um ano e meio me divertindo em territórios de herbívoros.
“O seu medo de predadores se dá devido a sua humanização tardia, Senhorita Vivi. Por isso, seus instintos de presa são muito mais fortes do que os das pessoas comuns.”
A hipótese da Professora Janna estava correta. Depois de me humanizar definitivamente, o medo que eu sentia de todas as coisas foi diminuindo.
O hábito de correr para debaixo de uma mesa toda vez que ouvia um barulho alto sumiu, por exemplo. Descobri que, ainda que uma criada derrubasse um objeto em cima de mim, eu não morria.
Quando o vovô sugeriu que eu me matriculasse na Academia, a intenção não era apenas estudar, mas principalmente me fornecer um ambiente onde eu poderia me adaptar e conviver com predadores.
“Ahin.”
Eu só estou bem agora porque passei por esse processo. Tentei explicar tudo isso, mas Ahin me evitou e me deu as costas.
Eu já tinha me encontrado com ele na Academia, e foi apenas nesse momento que eu tinha visto que a minha fobia de predadores não tinha sido desencadeada por ele. Eu estava com pressa para explicar, mas, encarando as costas dele, me senti mais e mais conflitada.
‘Talvez não seja um bom momento…’
Eu não queria, mas meus olhos ficaram grudados nas costas dele, com os músculos bem desenhados por debaixo do tecido fino. Ao contrário de mim, que estava corada, Ahin era puro o suficiente para derramar lágrimas em silêncio. Então, ele girou a cabeça.
“Eu consigo sentir.”
“…O quê?”
“Seu olhar sujo.”
Ao ouvir as palavras acusadoras de Ahin, envergonhada, estiquei o pescoço. Então vi que ele estava olhando para o espelho de corpo inteiro, que ficava um pouco distante da cama.
E ali refletida estava a imagem intacta de uma coelha pervertida com olhos sujos, mal cobrindo seu corpo nu com um lençol.
“…Eu não sei do que você está falando.”
Era normal uma mulher adulta ter pensamentos impuros. Fingindo que era tudo mentira, encarei as costas de Ahin, sombria.
“…Se não quiser me escutar, vou embora.”
“Para onde?”
“Tenho que voltar para a Academia antes que amanheça. E tenho muitos lugares para onde posso ir, agora. Eu morei com a Professora e com Russell, e tenho uma amiga chamada Hendry, e…”
Fui contando nos dedos os lugares para onde eu poderia ir se fugisse. Fiquei frustrada quando não consegui chegar a dez. Conheci muitas pessoas na época em que ficava pulando de território em território, todos herbívoros, mas não consegui manter contato.
Logo, vi que Ahin estava sorrindo de um jeito arrogante. Irritada, joguei uma provocação.
“Ah, e tem um predador que anda me perseguindo esses dias, Alan.”
“Aulong?”
“…É Alan.”
“Esse Aulong também… isso me surpreendeu.”
Só então, Ahin, reagindo, girou para me olhar de frente. Quando vi os olhos vermelhos e o cabelo prateado desarrumado, me petrifiquei.
“…Então, em resumo. Você consegue olhar para caninos agora?”
“Você não crê que eu senti a sua falta?”
Depois de dizer isso imprudentemente, abaixei a cabeça, envergonhada. Engoli em seco. Com meus ouvidos apurados, escutei Ahin se movendo na cama. Então, ouvi uma voz rouca.
“Posso me aproximar?”
Com essa pergunta veio o peso da época dolorosa na qual Ahin não podia me alcançar. A dor de meu pescoço destroçado, o medo de morrer, a tristeza de não poder me aproximar daqueles que estavam preocupados comigo, ir embora e me afastar de todos…
Mas, sem ter passado por todo esse processo, eu poderia nunca mais conseguir ouvir essa voz novamente. Me esforçando, fiz contato visual com Ahin.
“…“Estarei ao seu lado em breve”, lembra?”
Agora, eu não ia mais me afastar. Prometendo isso, comecei a caminhar na cama de joelhos, segurando o lençol com uma mão.
Ahin retrocedeu até que suas costas encontraram a parede. Ele estava encurralado, e curvou os olhos em um sorriso, mesmo estando em uma situação difícil. Era um sorriso de tirar o fôlego, como eu não tinha visto em muito tempo.
“Você vai se arrepender de vir até mim.”
“É um pouco tarde para dizer isso…”
“Nesse caso, espero que depois diga que não se arrepende de nada.”
Os braços firmes dele foram passados ao redor de minha cintura e me vi presa entre as pernas de Ahin. Estreitei os olhos.
“Você nem mesmo me reconheceu…”
Com cuidado, limpei uma lágrima que ainda estava pendurada em seus olhos. Assim que tentei puxar a mão de volta, uma mão fria prendeu meu pulso. Ahin colocou a minha mão de volta em sua bochecha. Senti o toque suave na palma de minha mão.
“Nos encontramos de um jeito fácil demais, então pensei que era impossível…”
“Por que não podemos nos encontrar facilmente?”
“Porque com Vivi, nada é simples.”
O Ahin de hoje parecia um bebê chorão. Vendo mais lágrimas caírem, comecei a entender porque ele sempre me pedia para chorar. Quando vi as gotas escorrendo pela minha mão e molhando meu pulso, tentei suprimir meus pensamentos impuros.
“…Vivi, seu olhar está sujo outra vez.”
“E-eu só estava pensando sobre como você falou que o closet era meu…”
Com as bochechas coradas, criei uma desculpa para não ser pega como uma pervertida. Enquanto eu olhava para a porta do closet por um momento, ele lambeu minha mão úmida. Arregalei os olhos e senti arrepios.
“Pensei no assunto por muito tempo, mas você gosta mais de joias do que eu teria imaginado.”
Ahin, me puxando mais para perto, com os braços ao redor de minha cintura, abaixou os olhos. O cheiro característico dele ficou mais forte.
“Não são as joias em si, é o dinheiro que elas podem gerar ao serem vendidas. Se eu controlar bem meus feromônios de cura, penso em abrir uma clínica para curar as pessoas. Vou adiantar minha formatura da Academia. Um diploma de Belhelm traz reconhecimento no mercado de trabalho, mesmo para alguém sem identidade confirmada.”
Enquanto eu falava, Ahin ficou boquiaberto. Depois de um tempo, recobrou os sentidos e falou.
“Então, enquanto isso, eu fico aqui sozinho e você fica lá, tendo um caso extraconjugal com aquele tal Aulong.”
Enquanto ele fazia essas acusações, esfregava a bochecha em minha mão como um gato.
“Na verdade, o nome dele é Alan.”
Assim que falei esse nome, os olhos vermelhos brilharam de modo ameaçador. Mas coloquei força no meu olhar de volta, para lutar contra a injustiça. Todas as vezes que fui falsamente acusada de ser uma casanova se acumularam, e quis retrucar.
“Ahin, foi você que me traiu.”
“Eu….?”
Ahin ergueu as sobrancelhas.
“Carregou uma lebre desconhecida para a enfermaria, e depois até mesmo a trouxe para o seu quarto.”
Exaltada, golpeei o lençol.
“Você até mesmo a colocou em cima da sua cama!”
“Mas a lebre era você o tempo todo.”
“Mas, isso…!”
“Então, não houve traição, certo?”
“…Bem…”
Eu não tinha nada para responder. Quando minha emoção esfriou, Ahin me abraçou com todo o corpo, comigo estando enrolada no lençol como uma lagarta.
‘Louco…!’
Olhei para ele prendendo a respiração, pois por baixo do lençol podia senti-lo. Não sabia se era por ele ser um predador ou era algo particular de Ahin, mas durante esse um ano e meio o corpo dele tinha ficado ainda mais firme.
Depois de um breve silêncio, ouvi uma voz rouca.
“Eu te falei.”
“…O quê?”
“O closet é seu, e a cama é sua.”
Enquanto ele falava, meus olhos se moveram para a cama depois de passar pela porta do closet.
“Os livros nas estantes são todos de Vivi. Eu só usei roupas que tivessem bolsos há anos, e inclusive meus pés e minhas mãos. Tudo é de Vivi.”
Percebendo algo novo, me remexi para colocar a mão para fora do casulo de lençol. Agora que penso, desde o dia em que me recolheu, nunca vi Ahin usar um paletó que não tivesse bolsos, e ele apenas usava camisas sem eles quando eu estava na forma humana.
“Você é louco…”
“Então, como pode me trair?”
Os lábios dele tocaram minha testa e se afastaram. O fato de que eu tinha me declarado antes de entregar meus feromônios de cura para Ahin naquela noite passou por minha mente.
Me vi refletida nos olhos vermelhos. Quando os vi pela primeira vez dentro daquela cesta, pareciam olhos que me matariam a qualquer momento. Mas agora, tenho certeza que ele nunca faria isso.
Até agora, sempre pensei que os meus sentimentos eram maiores. Mas vi que a expressão dele, que parecia relaxada à primeira vista, estava nervosa, e os braços dele me apertavam como se tivessem medo que eu fosse sumir.
Em sequência, os lábios dele tocaram minha testa, nariz e bochecha.
‘Isso é perigoso….’
Me lembrando do meu estado atual, franzi a testa. A essa altura, eu realmente podia colocar a castidade de Ahin em risco.
“Ahin, deixe-me ir até o closet.”
“Para quê?”
Apontei para o lençol, com o pescoço rígido.
“…Não posso ficar assim, sem roupas.”
“…Você….”
Depois de olhar para onde eu indiquei, Ahin curvou os olhos em um sorriso.
“Você não vai precisar de roupas.”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Undy
Aí meu Deus. Quanta emoção em um capítulo só. Finalmente esse recontro de milhões.
Lucien
Ueepaaaaaa 🔥🔥🔥🔥🔥