A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 124
Há mais ou menos quatro horas atrás, após ver o rosto de Evelyn e desmaiar, Vivi (em forma de lebre) e Russell foram levados para a enfermaria da Academia pelo próprio secretário.
Deitados em camas hospitalares, os dois estavam inconscientes com uma expressão de quem tinha visto a coisa mais horripilante do mundo.
Segurando o peito, pois sentia que seu coração ia explodir, Evelyn girou nos calcanhares. Ele tinha que contar a notícia para a pessoa que estava procurando a Senhorita Coelha mais desesperadamente que qualquer um.
Mas, enquanto abria a porta da enfermaria, ele parou. Seu olhar trêmulo pousou na lebre adormecida. Evelyn se aproximou novamente e analisou Vivi, que tinha agora o dobro do tamanho de um ano e meio atrás.
Como ela teria passado os dois últimos invernos? A cabeça do secretário estava tão cheia de pensamentos sobre a felicidade de Ahin, que não tinha parado para pensar em Vivi.
A mulher que ele tinha visto tinha as bochechas mais redondas, e vendo sua aparência de lebre adulta na forma animal, significava que ela tinha passado pela humanização definitiva. E, por alguma razão, estava frequentando a Academia neste momento.
O pensamento sobre tudo que Ahin tinha sofrido sozinho e que Vivi era uma pessoa sem-coração, por não ter aparecido mesmo após eles buscarem o continente inteiro, começou a se desfazer.
Os dedos de Evelyn passaram próximos ao pelo branco, sem tocá-lo. Comovido por várias emoções, Evelyn ficou parado na enfermaria, incapaz de se mover.
E se, quando ele saísse dali para chamar Ahin, Vivi se humanizasse e desaparecesse, como naquele dia há um ano e meio atrás? A aparência dela parecia efêmera, como se fosse sumir no instante que ele piscasse os olhos. Como ele sequer conseguiu encontrá-la?
Um suor frio brotou nas mãos de Evelyn, que ficou com medo de repente. Quando ele caiu em si, já tinha colocado Vivi dentro da própria mochila e entrado na carruagem.
E, agora, essa mesma carruagem estava passando pelo portão principal da mansão Grace. Depois de confirmar que ela estava respirando, Evelyn apertou os punhos, nervoso. O corpo todo dele estava dormente porque tinha ficado imóvel por quatro horas, mas ele não tinha tempo para sentir a dor. Podia estar cometendo o mais ridículo e imprudente erro de toda a sua vida.
O erro era a pequena criatura adormecida dentro da mochila, e o custo dele podia ser o pescoço de Evelyn. Ele tinha que contar tudo para Ahin. No entanto, seus lábios não se moviam. E se Vivi ainda não quisesse se encontrar com ele? E se ela odiasse o fato de ter sido trazida até a mansão Grace de repente?
“Evelyn, por que suas pernas estão tremendo?”
“Deve ser falta de sono, graças às ordens de meu Lorde.”
“Então está dizendo que quer dormir eternamente?”
“Perdão.”
Agindo como sempre, Evelyn continuou enxugando o suor das mãos nas calças. Sua razão lhe dizia para ficar do lado de Ahin. Mas seu coração, fazia muito tempo, estava no time de Vivi. Felizmente ou não, ainda havia uma chance para ele reparar o erro de sua decisão impulsiva.
Lillian Fayant estava na mansão Grace no momento, o que era uma grande sorte. Ele devia saber que Vivi estava frequentando a Academia Belhelm.
Evelyn não sabia os detalhes, mas era óbvio que havia uma conexão entre os dois. Então, se ele não fosse descoberto e apenas entregasse Vivi ao diretor… Seria como se nada tivesse acontecido.
Planejando isso e aquilo, Evelyn de repente se estremeceu. Foi porque sentiu um pequeno movimento na mochila, que reverberou por suas costas.
‘Não, não se desperte ainda…!!’
Felizmente, nesse momento, a carruagem parou. Ele precisava agir casualmente. Usando todo seu poder cerebral para enganar Ahin, Evelyn fez uma reverência na entrada da mansão.
“Perdão, mas vou me retirar primeiro. Preciso dormir imediatamente se quiser ver o sol amanhã.”
Erguendo a cabeça, Evelyn começou a suar frio. Vivi estava acordando, e ele podia senti-la se remexendo dentro da mochila. Sem conseguir suportar o calor que fazia dentro da bolsa, Vivi estava chutando com as patas. Evelyn sentia golpes em suas costas, o que parecia uma massagem.
Ela tinha acabado de se despertar e não entendia se estava sonhando ou se aquilo era real. O calor fazia sua mente ficar nublada.
<Onde estou?>
Mais do que isso, ela estava na forma de lebre. Imaginando coisas horríveis, Vivi continuou lutando para romper o tecido não identificado.
Toong. Toong.
A bolinha de algodão começou a colocar todas as suas forças em furar o tecido. Era como uma pequena besta enjaulada.
‘Senhorita Coelha, por favor, por favor!! Aguente só 30 segundos!’
Evelyn, incapaz de mostrar suas costas para Ahin, engoliu as lágrimas. A mochila estava se movendo como louca. Ahin estranhou Evelyn, que parecia estar inquieto, mas permanecia parado ali.
‘Que esquisito…’
Era verdade que o secretário não estava dormindo muito esses dias, então poderia estar ficando louco. Olhando bem, ele estava com o rosto corado, então talvez tivesse febre…
“Bem, então. Pode ir descansar.”
Evelyn, estremecendo, tirou a mochila das costas, a abraçou e deu as costas para Ahin.
“Espera aí.”
Uma voz grave ressoou pelas costas dele
“Dê meia volta.”
Ahin, pressionando as costas de Evelyn com a ponta da espada, que tinha sacado em segundos, ordenou.
‘Acabou tudo…’
Evelyn engoliu lágrimas amargas e girou. Nesse mesmo instante, a mochila se rompeu e duas orelhas brancas surgiram.
***
O quarto continuava sendo esplêndido. As paredes eram decoradas com ornamentos incrustados com joias, o carpete era tão limpo que era impossível localizar um grão de poeira.
Era o lugar que constantemente aparecia nos meus sonhos. Agora que estava aqui, meus sentimentos eram muito misturados. Tinha cavado com muita força com as patas dianteiras, por isso, agora estava fraca. Me deitei no chão. Eu estava em casa.
Assim que eu percebi onde estava, meu corpo ficou exausto, como que sentindo o peso do um ano e meio que eu passei nervosamente imaginando esse momento.
A emoção de rever a todos estava misturada com a vontade de apenas descansar.
“Não toque em nada, ou vou te entregar para o chef como ingrediente.”
Logo, uma voz fria ressoou por trás de mim. Quando girei a cabeça para a cama, vi Ahin, deitado com o rosto apoiado no braço. Tendo sido vestido para dormir, ele usava uma calça e camisa leves.
“E pare de flertar comigo.”
Rangi os dentes disfarçadamente. Estava muito irritada. Sabia que ele era uma besta, mas não creio que decidiu trazer uma lebre aleatória para dormir no seu quarto. É uma coisa boa que ao menos ele estava vestido. Se estivesse só de roupão, como antigamente, eu teria o chutado de ódio.
“Vou te levar de volta para a Academia assim que amanhecer, então vá dormir. E não me incomode.”
Ahin pensava que Evelyn tinha roubado uma lebre do coelhário porque pensou que ela se parecia comigo. Mas o mais impressionante de tudo foi que Evelyn, mesmo percebendo que Ahin tinha entendido tudo errado, não explicou em momento algum que ele sabia que a lebre era eu.
Vendo que ele me piscou o olho em segredo, entendi que não revelaria a verdade… Mas, do que isso me serviria?
<Se eu voltar a forma humana, serei descoberta de uma maneira ou de outra.>
Quanto tempo fazia desde a última vez que fui recolhida? Essas bestas loucas.
<Uff…>
Pensei que odiaria Evelyn, mas por alguma razão, a situação atual não estava tão ruim, então não fiquei brava. Na verdade, queria tanto voltar para cá que sentia vontade de chorar.
A primeira vez que fui trazida aqui, vim como um coelho… Não podia acreditar que a segunda vez seria igual. Como esperado, o meu reencontro dramático e comovente com Ahin não era para ser.
Determinada, olhei para ele, decidida a revelar minha identidade logo de uma vez.
“Não me encare assim.”
Essa besta sem noção. A arrogância nos olhos dele parecia ter dobrado. Estreitando os olhos, caminhei até o closet. Não seria melhor me transformar lá e sair vestida, para então me explicar?
<Abra a porta para mim.>
Quando saltei e indiquei a porta do closet, Ahin respondeu.
“Não, esse lugar pertence a Vivi. Não vou deixar você pôr suas patas sujas aí dentro.”
<Se ia maltratar tanto a pobre lebre, por que diabos a trouxe para passar a noite no seu quarto?!>
Era ridículo, mas meu coração se acelerou ao escutar aquela frase. Seja pelo fato de tudo ali dentro ser meu ou de ouvir meu nome dito pela voz de Ahin depois de tanto tempo.
<Mas ainda assim, preciso entrar no closet.>
Não podia me humanizar na frente de Ahin, sacudindo os quadris. Precisávamos conversar. Decidida a revelar minha identidade a qualquer custo, caminhei até a beira da cama.
<Me coloque em cima.>
Fiquei de pé nas patas traseiras, olhando para Ahin. No entanto, os olhos vermelhos brilhavam de modo frio.
“Não. Ninguém sobe aqui, somente Vivi.”
Sem conseguir me manter de pé por falta de apoio, cambaleei e caí no chão.
<Não creio que Vivi não tenha autorização para subir na cama onde apenas Vivi pode subir.>
Rolando no chão, percebi que agora eu era uma lebre adulta, com mais força nas patas. Não havia razão para que eu não subisse ali por conta própria.
<Lá vou eu!>
Então, ficando de pé novamente e colocando toda a força em um salto, disparei no ar magnificamente. Por um segundo, me senti como um cometa. E então, fui pega por duas mãos e levantada cuidadosamente.
“O que está fazendo?”
Meus pés tocaram o colchão macio. Ahin, de repente amolecendo, havia me colocado na cama. Surpreendida por estar próxima demais dele, me desvencilhei e corri para debaixo das cobertas.
A verdade era que a visão de um predador indefeso, com aquele rosto estranhamente mais maduro, era o suficiente para estimular o apetite de qualquer coelha.
Depois de colocar a cabeça para fora das cobertas, o que enxerguei não foi Ahin, mas um trapo branco.
<O que isso faz aqui na cama?>
Parecia ser algum tipo de boneco, com o algodão mal costurado vazando pelas laterais.
“Não toque nela. É a substituta.”
Como assim… uma substituta minha? Além disso, aquele boneco mais parecia um mutante, e eu não adivinharia que era um coelho mesmo se tivesse 100 tentativas.
Corando, encarei a boneca. A determinação de anunciar minha identidade estava enfraquecendo após esse encontro com meu alter ego feioso.
“Sabe, creio que estou louco.”
Depois de um tempo, Ahin tocou meu nariz com o dedo indicador, com uma voz estranha.
“Toda vez que eu vejo um coelho branco, me pergunto se poderia ser Vivi. Entende?”
O dedo se moveu do meu nariz e acariciou minha cabeça. Pisquei, pensando que isso lembrava o dia no qual conheci Ahin pela primeira vez.
“Se eu soubesse que seria assim, não deveria ter pedido aquilo de presente de aniversário para ela.”
Presente de aniversário? Enquanto refletia sobre as palavras de Ahin, me lembrei de algo que não deveria jamais ter esquecido.
“A próxima coisa errada que eu fizer… prometa que vai me perdoar, não importa o que seja.”
Naquele momento, eu não tinha entendido o pedido vago, mas agora percebi o que ele estava falando. Ele disse aquilo pensando que ia morrer.
Era uma maneira absurda de me pedir perdão por morrer primeiro.
“Como eu posso pedir a ela que me perdoe por quase matá-la?”
Tinha muitas emoções suprimidas naquela voz grave. Estiquei a pata dianteira para Ahin e segurei seu dedo indicador, o mesmo que estava acariciando minha cabeça.
<Você teve tanto medo quanto eu.>
A verdade era que as pessoas que ficam para trás esperando ficam com mais medo e ansiedade do que as que vão embora. Talvez ele tenha tido mais medo do que eu. Durante toda a minha vida como uma coelha, conhecia esse sentimento melhor que ninguém, pois sempre ficava para trás, vendo as costas das pessoas se afastarem e as portas se fecharem.
Os olhos vermelhos de Ahin tremeram, talvez por ter percebido algo estranho. Nesse momento, uma luz branca começou a sair do meu corpo. O tempo de metade de um dia que eu tinha para passar em minha forma original tinha se esgotado, então estava me humanizando contra minha vontade.
Logo, eu tinha virado uma pessoa, escondida debaixo das cobertas. Puxei o lençol, deixando apenas a cabeça de fora. Estava deitada frente a frente a Ahin.
Ele ficou petrificado, sem dizer nada. Estava falando sozinho há apenas um minuto atrás. Eu também fiquei em silêncio, porque não sabia o que dizer primeiro. Não consegui pensar em nada para falar, mesmo após ter tentado simular o reencontro com Ahin várias vezes antes.
“…Oi.”
Eventualmente, sorri e falei isso.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Ahhahahhahaha amei o reencontro hahahah ❤️❤️❤️❤️