A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 123
Depois do tempo que passaram juntos no território dos porcos, Russell tinha alcançado o posto de melhor amigo de Vivi.
Por compartilharem as dificuldades de uma humanização definitiva atrasada, ele a ajudou a aprender os modos e maneirismos de um ser humano durante o último ano.
E, desde que se matriculou na Academia junto com Vivi, não era exagero dizer que eles estavam juntos o tempo todo, exceto durante as aulas, já que eram de anos diferentes.
No entanto, hoje, Russell estava muito preocupado, porque não sabia onde Vivi estava.
“Ela me disse que ia para o coelhário…”
Russell perguntou à colega de classe de Vivi, a garota do clã dos porcos. Mas, mesmo após ir ali duas vezes, ele ainda não tinha achado Vivi.
Passando pelo caminho ladeado de árvores, ele foi para o local pela terceira vez, vendo os coelhos saltando de um lado para o outro em suas baias.
“Vocês viram a Guerreira…?”
Os coelhos mexeram os bigodes. Normalmente, uma capivara e um coelho não podiam se comunicar. Mas, neste momento, os animais começaram a se esconder em montes de feno, deixando apenas as bundas de fora.
“….”
Russell, olhando para os vários rabinhos de algodão, teve um pressentimento e começou a cavar na grande pilha de feno.
E o que ele encontrou foi um uniforme da Academia, bordado com fios de prata e joias sobre o tecido preto. Russell, cavando mais, retirou um objeto familiar. Uma mochila com uma cenoura bordada. Era definitivamente de Vivi.
“A Guerreira esteve aqui!”
Russell, intuitivamente sentindo que Vivi estaria em uma situação desesperadora, começou a chorar. Ela devia estar em perigo naquele exato momento. Seria por causa de um predador? Os coelhos ficaram agitados, tornando a atmosfera ainda mais turbulenta.
Enquanto isso, Quinn, que estava assistindo tudo empoleirado de um dos prédios, voou para perto do menino. Desde que Ahin tinha surgido inesperadamente, a águia havia se escondido, só reaparecendo agora.
“O pássaro malvado…”
Russell, secando as lágrimas, dobrou o uniforme de Vivi e segurou sua mochila. Ele e os coelhos formaram um círculo ao redor de Quinn, que tinha pousado no chão. Era uma pressão silenciosa para que o pássaro o levasse para onde Vivi estava.
Quinn suspirou ao ver os herbívoros que o cercavam, destemidos. Enquanto cogitava se deveria ou não guiar o menino, ele se perguntava sobre Ahin e Vivi. Quinn nem entendia como os dois tinham se encontrado, porque só tinha assistido tudo de longe. Tinha a possibilidade de que, ao levar o garoto até lá, ele estaria atrapalhando o reencontro dos dois, depois de tanto tempo.
Quinn coçou a cabeça com as garras, envergonhado. Russell, lendo a hesitação da águia com seus feromônios, falou em voz baixa.
“…Morangos.”
Os olhos de Quinn, que estava sofrendo de síndrome de abstinência de morangos, brilharam.
***
“Fique calma. Só vai arder um pouquinho.”
O médico da enfermaria falou para mim, enquanto aplicava um remédio em minha pata dianteira ferida. Um arranhão desse tamanho estaria resolvido em segundos com uma dose de meus feromônios de cura…
Tendo a pata puxada pelo médico, me estremeci. Desde que aprendi a me curar sozinha, sentir dor tinha se tornado algo raro e estranho.
“Já terminou?”
Ahin, encostado na porta, perguntou.
“É só um corte pequeno, então isso é o bastante.”
O médico, guardando seus materiais, falou.
“Está criando essa lebre, senhor?”
“Não, é um dos animais do coelhário daqui. Mas não tinha nenhum encarregado por lá.”
“Oh, devem ter se desencontrado. Bem, vamos te mandar de volta ao coelhário, então.”
Escondendo meus feromônios, estive fingindo ser uma lebre comum por quase uma hora. Estava chocada. Mesmo o médico, após me examinar, pensava que eu era um animal normal. Não importa o quanto eu pensasse, era estranho.
Estava tão proficiente em controlar meus feromônios que nem podia acreditar. Só agora o fato de eu ter feromônios de cura por quase 20 anos sem que ninguém descobrisse fazia sentido, pois parecia que eles eram bons em se ocultar. Parece que agora era a hora das habilidades reais de Vivi brilharem.
<Mais do que isso…>
Me deitando, fingindo ser uma lebre cansada, abri os olhos de leve. Assim que percebi que Ahin ainda não tinha ido embora, os fechei de novo com força.
<Por que não vai embora? O tratamento já acabou!>
Ele precisa sair daqui para que eu possa voltar à forma humana e ter um reencontro dramático ou algo parecido. Ser confundida com um coelho de criadouro… Se ele descobrir que era eu, não iria superar a vergonha pelo resto da vida.
Até mesmo o vovô tinha se controlado ao não contar sobre minha humanização definitiva para ninguém, apesar de ter me dito que queria muito se gabar por mim. Acima de todo o resto, eu queria mostrar a Ahin o meu eu humano.
<Não me diga que…>
Talvez esse predador esteja começando a suspeitar. Ele é muito esperto, afinal. Enquanto eu me preocupava e duvidava, alguém bateu na porta da enfermaria.
“Com licença.”
Uma voz conhecida e odiosa soou do lado de fora. Era Evelyn.
“Um minuto.”
Ahin, olhando para mim e para o médico, saiu para o corredor. Fiquei olhando a porta se fechar. Nesse momento, senti algo e olhei para trás. Com apenas os olhos aparecendo pela borda da janela, devido a sua altura, estava Russell.
“Céus, esse não é o assistente da encarregada do coelhário?”
O médico reconheceu Russell de imediato. Afinal, ele era filho da Professora Janna.
<Russell, como sabia onde eu estava?>
Esticando os braços pela janela que o médico tinha aberto, Russell estava segurando minha mochila. Percebi que ele devia ter encontrado meu uniforme no meio do feno.
“Que graça. Veio buscar sua amiguinha lebre?”
“Sim. Pode entregá-la para mim.”
O médico me passou para as mãos de Russell com um sorriso.
“Tome cuidado, a pata dela está machucada.”
O menino me segurou com cautela, os olhos pretos tremendo um pouco.
<Vamos sair daqui, rápido.>
Apontei para o coelhário com a pata, após checar que o médico não estava olhando. Assentindo, Russell começou a apertar o passo. Sendo carregada, olhei para o céu azul.
Eu devia ter dito que era eu desde o começo. Me arrependi um pouco, mas na hora pensei que era o que devia fazer. Talvez seja melhor assim. Preciso perguntar à professora Janna se os eventos de hoje significam que me curei de meu trauma. Queria tomar cuidado, por mim e por Ahin. Afinal, não podia permitir que nós nos feríssemos outra vez.
***
Quando Ahin voltou para dentro da enfermaria, a lebre tinha desaparecido. O médico falou que o encarregado tinha acabado de sair, levando-a. Ahin, suspirando baixinho, deixou o local com Evelyn, que não parava de falar.
‘…Devo estar louco.’
Ele tocou a própria nuca, distraído. Sabia que não estava em seu juízo normal esses dias, mas chegar ao ponto de enxergar Vivi em um animal… Além disso, seja onde ela estivesse, devia estar em forma humana, e não de bola de algodão.
É o que ele repetia para si mesmo, mas não deixava se sentir a sensação de vazio em seus braços, os quais tinham carregado a lebre até a enfermaria.
No entanto, obviamente, a lebre em questão era um animal comum. Ele havia tentado sentir seus feromônios com todas as forças, e não havia nenhum em absoluto.
‘Eu nem mesmo senti o cheiro único de Vivi…’
Ahin, que estava pensativo, de repente começou a rir. Ele tinha ficado literalmente louco de tanto procurá-la.
“Lorde Ahin.”
Evelyn, que ainda estava falando, chamou a atenção.
“…Estava me escutando?”
“Não. Não fale comigo.”
“Mas meu Lorde, preciso dizer… o Lorde Lillian não estava em seu escritório. De acordo com o secretário, ele deixou a Academia e foi para a mansão Grace.”
Só então Ahin olhou para Evelyn.
“…Isso é suspeito.”
“Também acho.”
Recentemente, Ahin estava passando muito tempo fora da mansão, procurando por Vivi. E o fato de Lillian ter aproveitado um desses momentos para ir para lá… Significava que ele tinha algo a discutir em privado com Valence, e tinha muita chance de ser algo relativo a Vivi.
“Vamos voltar imediatamente.”
“Para a mansão?”
“Preciso interrogar o meu avô.”
“Por favor, me mantenha fora do plano. O Lorde Lillian já me odeia…”
Evelyn evitou o olhar de censura de Ahin. Ele indicou a sala do diretor.
“Então, vá lá e roube a lista de estudantes outra vez… Não, pensando melhor, eu a roubarei. Vá para a carruagem e prepare tudo para partirmos.”
Logo, o pôr-do-sol tinha tingido o céu de vermelho. Ahin, olhando vagamente para a direção do coelhário, falou.
“Evelyn.”
“Sim?”
“Não consigo parar de pensar naquela lebre. Se eu a roubar, seria uma loucura, não acha?”
A maioria dos herbívoros tremeria ao ver os olhos vermelhos e caninos afiados de Ahin. Estranhamente, no entanto, o animal o havia olhado nos olhos.
“Está falando da lebre que o senhor levou para a enfermaria? Terá um caso extra-conjugal com essa lebre?”
“…”
“Parando para pensar, é estranho. O Lorde Ahin não é uma pessoa misericordiosa. Salvar um animal ferido? Não me diga que vai substituir a Senhorita Coelha por essa lebre? Oh, céus, que sem vergonha…”
Evelyn continuou a tagarelar e se aproximar, o censurando. Ahin, incomodado com a proximidade do rosto de Evelyn do seu, falou.
“Saia daqui.”
Mas Evelyn, que estava emocionado de uma maneira que era muito rara, continuou.
“Não creio que fará algo assim, depois de dizer que dedicaria a ela seu corpo e alma…”
Ele continuou falando pelo que pareceram horas. O pôr-do-sol coloriu o rosto dos dois de vermelho.
Ahin, percebendo que muitos estudantes olhavam a cena com estranheza, sentiu vontade de matar Evelyn pela primeira vez em muito tempo.
***
Desde que Vivi tinha desaparecido, Ahin tinha estado decaído. Claro, não se tratava de seu corpo, que continuava sólido como sempre. Era sua cabeça.
Por essa razão, Evelyn, o auto-proclamado secretário mais competente do mundo, não queria perder uma pista que fosse. Por isso, decidiu ir ver essa tal lebre com seus próprios olhos.
Em vez de ir para a carruagem, como lhe foi ordenado, ele desviou e entrou no coelhário. O fato de Ahin se interessar por uma lebre era estranho. Com a exceção de Vivi, ele via todos os outros herbívoros como lixo. Por isso, Evelyn pensou que não tinha nada a perder ao dar uma checada antes de ir embora.
Após olhar ao redor do local, que estava escuro devido ao pôr-do-sol, ele se escondeu rapidamente, ao ter um pressentimento.
‘Mas o quê…??’
Atônito, ele viu Russell entrar, acompanhado de ninguém menos que a própria Vivi, que eles tinham buscado por tanto tempo. O uniforme preto que ela usava provava que estava frequentando a Academia.
“Felizmente, a professora Janna acredita que já passou.”
“Então você não tem mais fobia de predadores?”
“P-por que eu teria medo deles? Não me importam nem um pouco.”
Vivi, distribuindo a refeição noturna dos coelhos na baía, se abaixou para ficar com os olhos na mesma altura que Russell.
“Russell, você consegue discernir se um animal é um homem-besta em sua forma original ou um animal comum lendo a energia deles com seus feromônios?”
“Hmmm…”
Vivi estava curiosa por isso. Ahin e o médico tinham sido enganados porque ela era muito habilidosa em ocultar seus feromônios agora. Mas talvez alguém com uma habilidade específica pudesse descobri-la.
“Vou voltar à minha forma original por um momento. Pode tentar sentir meus feromônios?”
“Tudo bem.”
“Então, por favor.”
Vivi, afagando o cabelo de Russell, sorriu. Então, começou a fazer a dança tradicional do clã das lebres. Isso foi porque Russell tinha ensinado a ela que para mudar de forma era necessário fazer assim, e ela não tinha conseguido perder o costume.
Logo, o uniforme e a mochila caíram no chão e uma luz brilhou no coelhário. Vivi, pisando no chão em forma de lebre, de repente teve um pressentimento estranho e girou.
“…Senhorita Coelha.”
Após hesitar, Evelyn se levantou. Ele ficou envergonhado ao notar que, com sua aparição repentina, ambos Vivi e Russell tinham desmaiado. Só depois ele percebeu que sua cabeça tinha aparecido por cima de um muro, bem debaixo de uma lamparina, de modo que devia ter parecido uma cabeça luminosa e decepada. Mas já era tarde.
Uma hora depois, a carruagem da família Grace, que estava estacionada no portão principal da Academia, começou a se mover.
Ahin, olhando para a direção do coelhário através da janela, se virou para Evelyn, que estava sentado em sua frente. Ele usava uma mochila estranha, pequena demais para ele. E deveria haver algo dentro, pois havia uma forma redonda no fundo.
“O que é isso?”
“Não acha que combina comigo, meu Lorde?”
“É alguma maneira indireta de pedir para morrer?”
Evelyn era alguém que não hesitava em usar um diadema com orelhas de coelho. Assim, ignorando a escolha de acessórios como algo não surpreendente, Ahin checou seu relógio de bolso.
A viagem até a mansão Grace duraria umas 4 horas. Sentindo que dentro da carruagem havia um aroma meio estranho, os olhos dele começaram a ficar mais pesados.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Xicalina
MDS! Evelyn, eu te amoo kkkkkk
Undy
Eu estou rindo muito aqui com esse desmaio kkkk Evelyn nunca me decepciona
Lucien
Aíiii MDS o Evelyn q vai fazer eles se encontrarem kkkkk