A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 12
A vida do capitão, que tentou fazer rodeios para tentar ser poupado, não durou muito. Com um movimento, a espada voou no ar, e a cabeça do homem-besta lebre, o último sobrevivente até então, caiu no chão. Ahin, que lambeu o sangue que havia salpicado em sua mão, deu um suspiro de arrependimento.
“Esqueci de perguntar sobre a família de Vivi.”
Evelyn, que ficou parado o olhando o tempo inteiro, deu de ombros.
“Perdão, Lorde. Eu fiquei tão surpreso que também acabo de lembrar somente agora.”
Os olhos dos dois homens pousaram no corpo do capitão. O cadáver, que não poderia responder mais perguntas, já estava sendo devorado pelas panteras negras que se aproximaram. Ahin, observando os animais se alimentarem, fez sinal de “xô” com as mãos.
“Ash, pegue seus subordinados e vá embora.”
Ash, a líder do grupo, assentiu. Logo, os predadores haviam se dispersado entre a vegetação. Evelyn, olhando de longe, murmurou.
“Se ela tem 18 anos, não é tão mais jovem que eu ou o Lorde Ahin.”
Não era apenas um coelho, mas uma mulher de 18 anos de idade. Ele ficou remoendo o que o capitão havia dito. Mas havia a possibilidade de não ser verdade.
“É um absurdo. Uma mulher-besta que não passou pela humanização apesar de ter completado a maioridade?”
“Bem, e faz sentido que uma coelha possa entender a linguagem continental ou ler livros?”
Ahin, sorrindo, prendeu a espada ensanguentada na cintura. Ele parecia muito tranquilo, mesmo depois de ouvir as informações surpreendentes. Evelyn, o encarando, falou.
“Me parece que o Lorde já estava convencido desde o início que ela era um homem-besta lebre.”
“Algo assim.”
“…Por que fingiu não saber nada quando eu arrisquei que ela poderia ser uma mestiça?”
“Porque é engraçado ver você agonizando.”
Evelyn não respondeu, apenas murmurando para si. Apesar de ter o corpo de um filhote de coelho, o pensamento de que Ahin estava dormindo na mesma cama que uma mulher da mesma idade passou vagamente por sua cabeça.
“Mas que diabos…”
Enquanto ele ficava em seu próprio mundo, Ahin sentou em uma pedra próxima. Evelyn, que não tinha percebido os feromônios de Vivi, continuava remoendo.
“Se realmente ela é incapaz de se humanizar… Não deixará de ser um homem-besta, mas vai ter que viver como um coelho filhote pro resto da vida.”
“Isso não é nada mau.”
Ahin, relaxado, estirou as pernas como se por provocação.
“Mas Lorde, por quê?”
Evelyn, cuja frustração estava no limite, tinha a testa franzida. Ahin, que ainda estava sorrindo, ainda assim pareceu mais sério do que nunca.
“Evelyn.”
“Pois não?”
A atmosfera ficou gelada em um segundo, talvez porque o ponto principal seria dito. Sentindo isso, Evelyn esperou nervoso as palavras que se seguiriam.
“A coelha…”
“Sim…”
“Quando eu vou dormir ao lado dela, quero devorá-la.”
“Ah, enten… O que acabou de dizer?”
Os ombros de Evelyn desabaram. Ao contrário do que ele esperava, a declaração foi bem abrupta.
“Eu quase a mordi.”
“Oh, sim… incrível.”
Ahin, explicando vagamente, se lembrou dos feromônios que sentiu naquela noite. Coelhos produziam feromônios mais fortes quando estavam dormindo do que enquanto estavam acordados.
Um odor que sem dúvida era produzido por um homem-besta. O instinto que o mandava devorá-la não tinha parecido somente uma ou duas vezes.
Também, presumivelmente, os feromônios dos homens-besta lebres eram conhecidos por serem fortes e estáveis há muitos anos.
[Ela é uma aberração que não se humanizou apesar de ter completado a maioridade.]
A idade de dezoito anos foi inesperada, mas seja como for, era uma coisa boa. Se ela é um coelho com um raio de ação limitado, é mais fácil mantê-la sempre à vista.
Ainda havia muitas dúvidas, mas era um problema que precisava ser resolvido gradualmente. Evelyn, que encarou Ahin, que lambia os lábios sem perceber, o questionou.
“Lorde Ahin, por favor, explique com mais detalhes.”
“Que irritante.”
“O lorde é tão mesquinho.”
Evelyn normalmente teria respondido com adulação. No entanto, desta vez a resposta foi bastante desrespeitosa, o que pareceu refrescante. Ahin, que caiu na gargalhada, estalou os dedos.
“Já faz muito tempo desde que você foi perseguido pelos lobos, verdade?”
Nesse momento, as panteras negras voltaram a surgir dos arbustos. A aparição de tantas bestas fez a atmosfera ficar tensa.
“Ash, está na hora da sobremesa.”
Após receberem a ordem, as panteras negras mostraram sinais de ferocidade em relação a Evelyn, rosnando e expondo os caninos.
Evelyn respondeu com os braços estendidos, tentando escapar.
“Senhores panteras, acalmem-se. Eu estive com vocês por um longo tempo, não digam que esqueceram do meu rosto. Eu os conheço faz dez anos!”
“É melhor arrancar essa boca barulhenta, Ash.”
“Lorde Ahin, é tão cruel comigo. Acabar com minha boca é o mesmo que acabar com minha vida…. Ah!”
Evelyn, que estava acostumado com essa situação, fugiu o mais rápido que pôde. Foi uma reação rápida e automática, deixando o seu cabelo preto todo desgrenhado. Ahin fez sinal de adeus levemente e observou Evelyn e as panteras negras, que começaram a brincar de pega-pega.
***
“Buscarei algo para o lanche. Senhorita, aproveite bem.”
O cheiro de papel velho entrava em meu nariz. Quando Meimi, que tinha acomodado o livro no suporte de mármore, saiu, eu olhei para a biblioteca onde estava acomodada, lendo no chão.
Assim como a mansão, a grande biblioteca era magnífica. Tinha tantos livros que não dava para contar, e inúmeras prateleiras.
<Ele está atrasado de novo.>
Tinham passado muitos dias desde o incidente.
Toda vez que Ahin voltava para casa mais tarde, meu dia naturalmente ficava mais comprido.
<Ontem ele também chegou tarde, será que está ocupado esses dias?>
Olhando para o nada, voltei a me concentrar no livro.
[A teoria dos feromônios.]
O livro, dado por Valence, tinha sido examinado de cabo a rabo. Os olhos que o liam o livro permaneciam em um mesmo lugar.
[Em alguns casos, se os feromônios inerentes são fortes demais, há a teoria que a humanização pode tomar mais tempo que o normal. Foi registrado um caso em que um homem-besta raposa com um feromônio notavelmente poderoso somente passou por sua primeira transformação aos cinco anos de idade.]
Mexi e mexi as patas dianteiras para virar as páginas mais rápido. Porém, ao contrário do que esperava, não houve outra menção a esse tema. Apenas essas duas linhas.
<Se os feromônios são poderosos, a humanização pode se atrasar?>
Foi a primeira informação sobre o assunto que encontrei, mesmo que juntasse todos os livros sobre feromônios que havia lido. Fechando meus olhos por precaução, me concentrei na energia que pairava em meu corpo.
<Hnnng.>
Infelizmente, longe de ser poderosa, a energia apenas flutuava, como algodão doce ao vento.
O homem-besta raposa do livro foi humanizado aos cinco anos, quando o normal é antes dos três, então poderia o meu caso ser algo parecido? No entanto, só sabia do registro desse caso único, e tinha acontecido com o clã das raposas…
<Vivi não sabe.>
Com a testa franzida, virei meus olhos para trás, após sentir uma sensação esquisita. Recentemente, o número de criados desconhecidos tinha aumentado na mansão. Quando há algum evento, parece que eles contratam pessoas extras para dar conta do serviço aumentado.
No entanto, uma empregada em particular estava me rodeando, fingindo limpar coisas inúteis, levantando vasos e espanando a mesma prateleira. Senti seu olhar cravado em mim. Quando nossos olhos se encontraram, ela estendeu a mão e sorriu de modo distorcido.
“Vem cá…”
Fiquei receosa porque seu comportamento era muito suspeito.
<Não subestime a vigilância de um coelho!>
Até agora, os criados da mansão haviam se aproximado de mim de forma respeitosa, como se tivesse status elevado, devido à posição de “presa de Ahin”.
Mas essa pessoa não. Ela parecia apenas me observar.
Além disso, todos os criados têm uma aura de pantera negra que eu não podia sentir nela. Assim que pressentiu minhas desconfianças, seus olhos gentis mudaram de repente.
<Argh!>
Surpreendida com a tentativa repentina dela de me acertar com um esfregão, rapidamente recuei. Ela se moveu, virando as costas para o cavaleiro que protegia a biblioteca e que estava distante.
Ela estava lhe bloqueando a visão perfeitamente. Ele não me veria, por mais que virasse para cá.
<Não há ninguém.>
Mesmo que Meimi ainda pudesse voltar logo, já era tarde, então, exceto pelo cavaleiro de guarda na entrada, éramos apenas eu e essa criada na ampla biblioteca.
Tentei acenar para ele com as patas dianteiras para indicar a crise, mas não havia maneira que ele pudesse me enxergar. Quando a mão da criada voou em minha direção novamente, corri para trás para evitá-la.
<Por que você está perseguindo Vivi?>
Correndo mais fundo biblioteca adentro, olhei para trás e engoli em seco.
Por sorte, a velocidade da criada estava lenta, pois ela não podia fazer um alarde ou chamaria a atenção do cavaleiro. Além disso, o meu tamanho reduzido era vantajoso graças aos pequenos espaços entre cada estante.
Acho que consigo correr de estante em estante até chegar à entrada. Meu rosto, interiormente aliviado, imediatamente ficou surpreso.
<Mas o que é isso!?>
O corpo da criada começou a encolher, acompanhado por uma luz. Não demorou muito para que um lobo marrom escuro, que jamais deveria estar aqui, aparecesse.
Meu coração afundou e eu estava apavorada. Saliva escorria da boca do lobo, ligeiramente aberta.
<Por que, por quê…!?>
Por que um lobo está aqui? Seus olhos eram definitivamente vermelhos também. Eu “gritei” para o nada, mas era apenas uma pergunta para a qual não conseguiria obter resposta. Após a transformação, a loba, que ganhou mais mobilidade, encurtou a distância entre nós em um instante.
<Isso é um ataque do clã dos homens-besta lobos?>
Haviam muitos conflitos entre o Território das panteras negras e o Território dos lobos. Os lobos eram muito gananciosos por invadir e roubar outros territórios.
Uma voz de medo ressoou em minha cabeça. Meus pés, que estavam correndo loucamente, rangeram e frearam. O ar frio da noite esfriou o meu corpo suado.
<Essa não.>
Uma varanda. Na minha frente, havia um beco sem saída, mostrando que eu não poderia ir mais longe. A loba também se aproximou vagarosamente, como se já tivesse ganhado.
Eu tinha corrido muito, estando totalmente sem fôlego. Eu também não podia ter medo. Hesitando, recuei até que minhas costas tocaram o ferro da varanda.
Ah … como se estivesse presa entre as barras de ferro decorativas, encarei a loba com os olhos trêmulos. Tremores fracos se espalhavam pelo meu corpo como ondas.
“… Vivi?”
Uma voz grave e distante fez tremer os olhos, os meus e os da loba, ao mesmo tempo.
Tradutora: Nopa.
Revisão: Holic.