A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 113
O cheiro forte de sangue atingiu o nariz de Ash. Como se tudo fosse um sonho, ela cambaleou até se deitar ao lado da coelha bebê, sem coragem de tentar acordá-la.
<Vamos. Se mexa.>
Tuk.
Ash cuidadosamente tocou a coelha com sua pata dianteira, mas ela não se moveu.
<Vivi, levanta.>
Com um leve movimento da pata, o rosto da coelha se virou para o seu lado. Seus olhos estavam fechados como se ela estivesse morta.
<Acorde, por favor. Você prometeu que íamos brincar no jardim amanhã.>
Os olhos trêmulos da pantera se fixaram no ferimento na parte de trás do pescoço, de onde o sangue fluía. Era algo muito cruel para um coelho do tamanho de uma mão humana suportar.
Ash, sentindo raiva, virou a cabeça para Ahin, que estava caído ao lado dela.
<É tudo sua culpa. O que diabos fez para que ela ficasse nesse estado?!>
Evelyn começou a ser puxado para dentro do quarto por Quinn e Barra.
“Por que todo mundo está tão determinado hoje? Lorde Ahin, está vendo que eu estou resistindo, não é? Irá me perdoar, sim…. Lorde Ahin…?”
Ele parou no meio da frase, encarando a cena medonha. Ash encarava Ahin. E então, ela se lançou contra ele.
“Senhorita Ash, pare!!”
Evelyn, fora de si, se jogou na frente da pantera para impedi-la de morder seu mestre.
“Grrrrr….”
‘Mas o que diabos aconteceu…?’
Evelyn se ajoelhou e colocou o dedo na frente dos narizes de Vivi e Ahin. Ambos respiravam, apesar de tão fracamente que parecia que iriam parar a qualquer momento.
Ahin, que nunca tinha sido visto em um estado tão enfraquecido e muito menos desmaiado, era um problema, mas o sangramento de Vivi era mais preocupante.
O sangue nos lábios de Ahin, e a coelha bebê, com um ferimento na nuca. Os olhos vermelhos de Evelyn, alternando entre um e outro, tremiam violentamente.
‘Não pode ser…’
Não havia tempo para tentar imaginar o que aconteceu, e nem para esperar por um médico.
“Quinn.”
Evelyn, escondendo o fato que sua mão tremia, olhou para a águia.
“…Provavelmente o Lorde teve um ataque de feromônios, então traga a Senhora Valence e o médico para cá. Levarei a Senhorita Coelha para a enfermaria correndo.”
Para variar, Quinn assentiu obedientemente, e saiu do quarto voando.
Evelyn, carregando a almofada especial para coelhos, colocou Vivi em cima, com muito cuidado. A fronha branca ficou imediatamente manchada de sangue. Parecia que as respirações dela estavam ficando cada vez mais fracas.
Carregando a almofada, que não parecia ter peso algum, ele rapidamente saiu do quarto. Os cavaleiros que guardavam a porta gritaram algo, mas ele não podia parar para escutar. Ash e Barra corriam atrás de Evelyn.
“Senhorita Coelha, vamos chegar na enfermaria daqui a pouco.”
Logo que ela tinha chegado, ele tinha pensado que ela era uma coelha pequena e frágil, e seria difícil para ela sobreviver no território das panteras negras. Se arrependendo de não poder fazer nada mais, ele se focou na pequena criatura na almofada.
“…Por favor, aguente firme… Por favor.”
Evelyn, que odiava correr mais do que qualquer outra coisa, correu e correu por corredores que não pareciam terminar nunca.
***
Quinn, após cruzar a mansão voando, acordou Valence e o médico da família aos gritos. Sem entender o porquê de ser chamada ao quarto de Ahin no meio da noite, Valence tentou conter sua mente, que dava voltas.
Enquanto o médico examinava Ahin, ela se sentou, apertando a mão com tanta força que as veias saltavam. Lillian também estava ali, andando de lá para cá sem parar.
“Sogro.”
Ela deu uma advertência em voz baixa. Isso poderia distrair o médico e interferir no tratamento. Parando de andar e se enrijecendo como uma estátua, Lillian olhou para Ahin, que tinha sido movido para a cama.
O seu neto, que sempre estava cheio de energia, estava com uma aparência muito frágil.
“Ufa…”
Depois de um longo tratamento, o médico, enxugando o suor frio da testa, se levantou. Grande parte do nervosismo dele era culpa de Quinn, que tinha se empoleirado na beira da cama e tinha ficado o encarando o tempo todo, com literais olhos de águia.
Tentando evitar o olhar, o médico pareceu nervoso, como se não conseguisse encontrar as palavras certas. Valence e Lillian o encaravam, e ele hesitou.
“Eu… tenho algo a dizer para os senhores.”
“Fale de uma vez!”
Valence, que se sentia muito nervosa por dentro, apesar de tentar não demonstrar como líder da família, falou rapidamente. O médico, respirando fundo, se inclinou em um pedido de desculpas.
“A verdade é que o Jovem Mestre Ahin já sofre de ataques de feromônios desde que tinha 15 anos de idade.”
“Como é?? Repita isso!!”
Lillian, que não conseguia ocultar seus sentimentos, gritou.
“Eek!”
O médico se encolheu de medo, gaguejando ao voltar a falar.
“L-lorde Ahin tem tido ataques frequentes desde sua primeira cerimônia de maioridade.”
“Porque só agora nos fala uma coisa importante como essa, seu cretino…!!”
“Eu vou explicar tudo, se acalme, meu Lorde…! A sua pressão sanguínea vai aumentar…”
“Quem liga pra minha pressão numa hora como essa?!”
Lillian, com uma expressão que lembrava um demônio, pressionou o médico trêmulo. Valence o bloqueou com um gesto elegante de mão.
“Não tente me segurar! Esse…!”
“Sogro.”
Quando ela advertiu em voz baixa, Lillian, que era fraco quando se tratava de Valence, conteve a raiva.
“…Eu sou o médico exclusivo de Lorde Ahin. Se eu saísse abrindo a boca por aí sobre tudo que vi, isso poderia colocar em ameaça a mim, seu emprego e até a minha vida.”
“…Considere os três ameaçados.”
O médico estava sendo acusado injustamente. Valence lhe deu um pequeno sorriso e levantou o queixo, sinalizando.
“Não iremos te punir no momento. Continue.”
“S-sim, sim.”
Ele se endireitou.
“A maioria dos homens-besta tem seus feromônios distribuídos pelo corpo através da corrente sanguínea. Antes de ter seu primeiro ataque, o Lorde Ahin era igual, mas desde então, os feromônios dele causaram um entupimento parcial das artérias.”
“…Igual ao meu marido…”
“Pare de enrolar e chegue logo ao ponto!”
“Sogro.”
Lillian, que tinha tentado apressar o doutor, foi criticado novamente por Valence. O médico, secretamente se segurando para não correr, continuou.
“Depois de começar a ter os ataques, eu frequentemente receitava ao Lorde Ahin comprimidos controladores de feromônios, que acalmavam os ataques. Mas… ultimamente, ele não tem vindo pedir por mais.”
“…Isso significa que eles não estavam mais fazendo efeito.”
Valence, olhando para baixo, falou suavemente. O médico, com uma expressão sombria, assentiu ligeiramente.
“Eu não ousei perguntar ao Lorde Ahin, mas pensei o mesmo.”
Então ele nem mesmo respondia mais às drogas estabilizadoras de feromônios… Desta vez, nem mesmo conseguindo sentir raiva, Lillian se derrubou no chão…
Mais uma vez, ele perderia um membro precioso de sua família, pela mesma razão? A mão enrugada apertou o carpete com tanta força que ficou branca.
“Sogro, por favor venha visitar a mansão Grace durante as férias da Academia Belhelm. Ele pode desaparecer por vezes, mas se você ficar hospedado, é quase garantido que poderá ver a cara de Ahin.”
“Como é que irei especialmente para vê-lo e meu neto pode não me mostrar a sua cara?! Que absurdo!”
“Sogro… o trabalho de criar Ahin para ser o próximo líder é complicado. Ele gosta de brincar de esconde-esconde às vezes.”
“Que patético. O futuro líder do clã deveria ser correto e responsável como você, Valence.”
Lillian, não conseguindo conter as lágrimas que se formavam em seus olhos vermelhos, os tapou com as mãos. O médico o olhou chorar, constrangido.
“Eu… ainda…”
“Tem algo mais a dizer?! Não quero ouvir que ele não vai viver por muito mais tempo!!”
Sem conseguir conter o choro, Lillian socou o chão. Valence, se agachando e o cobrindo com sua estola, sinalizou para que o médico prosseguisse. Antes que a situação ficasse ainda mais complexa, ele continuou apressadamente.
“Mas nesse exato momento, o corpo do Lorde Ahin é como o de uma pessoa normal.”
“Do que está falando?”
“…O quê?”
Lillian e Valence, com os olhos arregalados, perguntaram ao mesmo tempo. Recebendo os olhares penetrantes, o doutor enxugou o suor da testa.
“Bem, eu não sei explicar como aconteceu … mas todos os sinais de ataques de feromônios sumiram, e no momento ele está apenas dormindo. O examinei várias e várias vezes para garantir, e é isso.”
Os dois, tendo ouvido algo inacreditável, ficaram boquiabertos. Valence, tendo despertado primeiro do transe, correu para tocar no pulso de Ahin.
Apenas dizer que os feromônios de dominação estavam estáveis não seria suficiente. Eles corriam de forma perfeita e tranquila, sem interrupções. Olhando para Ahin sem nenhuma expressão, ela abriu a boca depois de um longo tempo.
“Quer dizer que os ataques de feromônios desapareceram para sempre?”
“Bem, temos que esperar para ter certeza, mas… Neste momento, não consigo vislumbrar nenhuma outra hipótese.”
“Então, o que é esse sangue na boca de Ahin?”
“Bem…”
Já que tinham sido chamados de repente, os três que estavam ali não tinham ideia do que tinha acontecido e apenas se entreolharam. Houve um breve silêncio.
No momento em que Valence abriu a boca para mencionar a ausência de Vivi, a porta do quarto se abriu de supetão. Evelyn, se esquecendo de suas maneiras, respirava pesadamente.
Novamente ansiosos, Valence e Lillian franziram o rosto perante a aparência desalinhada do secretário, que era muito rara de se ver. Respirando fundo, Evelyn alternou o olhar entre Ahin, que dormia profundamente, Valence e o médico, de pé, e Lillian, sentado do chão com uma estola na cabeça.
Não tendo tido tempo de se organizar, Evelyn resolveu cortar as formalidades e ir direto ao ponto.
“Acho que deveriam vir comigo um instante.”
***
O médico, saindo de dentro da enfermaria, negou com a cabeça. Vendo seu rosto grave, Valence, Lillian e Evelyn engoliram em seco.
“…Ela não quer sair de debaixo do móvel.”
A situação era tal que Vivi estava em condição crítica e poderia morrer se o sangramento não fosse parado de imediato. Ainda assim, ela havia acordado e se enfiado debaixo de um móvel, não mostrando nenhum sinal de que sairia dali.
Quando Evelyn a levou ali e Vivi escapou, ele tentou implorar de todas as maneiras. Não tendo obtido sucesso, foi chamar ajuda. Mesmo quando ele tentou enfiar o braço para puxá-la à força, ela apenas ia mais para o fundo.
Nos seus olhos de coelho, podia-se ver um pânico completo.
“Por que ela não sai?”
“Creio que ambas a mente e corpo dela estão instáveis, e parece que os instintos dela estão dominando a sua razão.”
“Por que não usamos feromônios para fazê-la ficar inconsciente e então a arrastamos?”
Lillian, andando de um lado para o outro com as mãos atrás das costas, deu uma sugestão.
“O corpo de um coelho bebê é diferente do de uma pessoa. Se usarmos feromônios nela nesse estado..”
O médico, incapaz de dizer o pior resultado possível, hesitou.
“O ideal seria anestesiá-la. Mas como ela está incapaz de pensar, se a forçarmos a sair para injetá-lo, ela vai lutar, e…”
O resultado poderia ser a morte. Assustado, Lillian segurou a maçaneta da porta.
“Eu tenho uma conexão especial com ela, como mestre e discípula. Tentarei convencê-la a sair.”
“Sogro…”
“Lorde…”
Valence e Evelyn ambos seguraram os ombros de Lillian, o impedindo. Ash, que estava caminhando nervosamente pelo corredor, arranhou a porta da enfermaria e miou.
“Sinto muito, mas você não pode entrar agora.”
Valence, acariciando gentilmente a cabeça de Ash, falou com o médico.
“Me dê o anestésico. Eu sou a predadora que tem a melhor relação com ela, dentre os presentes. E Evelyn, só para o caso de a coelha se sentir mais confortável com um herbívoro…. Escutei que temos um aqui na mansão, trabalhando nos estábulos.”
“Fala do Senhor Lile. Vou providenciar agora mesmo.”
Lillian entrou na conversa, curioso.
“Mas ele é um gorila, certo? Gorilas não são herbívoros.”
“Lile não é um gorila, e sim um cavalo.”
“Quê…?”
“Ele é um cavalo branco.”
Enquanto Lillian cambaleava, chocado, Evelyn entregou um bilhete para Quinn entregar no estábulo. Valence pegou o anestésico e entrou na enfermaria. Sem fazer ruído, ela foi até o móvel mencionado pelo doutor.
“Bebê, você está aí?”
Pela primeira vez na vida, Valence se deitou no chão sujo da enfermaria. Não se importando, ela apurou a vista na escuridão por debaixo do móvel.
Uma coelha bebê enrolada como uma bola estava ali.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Aí MDS, eu tô chorando 😭 feliz q parece q a Vivi curou o ahin, mas graças a isso ela está em pedaços! Justo quando os dois estavam love love, agora vai demorar pra ela perder o trauma 😭😭