A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 11
Valence havia me dito.
[Não poderemos tomar chá esses dias porque minha agenda está muito ocupada.]
A mansão anda muito agitada ultimamente, será que tem algo a ver?
Enquanto andava no corredor carregada por Meimi, fiquei feliz por cruzar com ela por coincidência. Faziam 3 dias que não a via.
<Senhora Valence!>
“Oh, eu nunca te cumprimentei assim antes.”
Ela estava acariciando meu queixo, quando eu de repente me lembrei do que tinha acontecido noite passada.
Valence, que percebeu imediatamente que eu tinha feromônios, pode ser capaz de me dar conselhos. Ao contrário de mim, que só podia obter informações através de livros e conversas dos criados da mansão, ela deve ser bem informada.
Com esperança, pulei no chão, saltando dos braços de Meimi, e olhei para Valence, pensando em como lhe perguntaria. Era complicado.
Noite passada, fiquei com dor de cabeça e enjoada após ser mordida no pescoço por Ahin. Então, de madrugada, tive uma visão fantástica onde tinha um braço humano. Como posso explicar isso a ela…?
<…Escrevendo…?>
Impossível. Fiquei exausta apenas em escrever a palavra Vivi, e seria impossível aqui, no meio do corredor. Com uma cara sombria, me aproximei da barra do vestido vermelho dela.
“Bebê?”
Quando perceberam que eu ia começar algo, Valence e Meimi se aproximaram. Quando vi que estavam olhando, fiquei em pé em duas patas, abri a boca e apontei para a parte de trás do meu pescoço.
<E foi assim que Ahin mordeu Vivi na nuca.>
Será que ela entendeu meus gestos? À primeira vista, Valence parecia estar compreendendo. Resolvi continuar.
Encorajada, a próxima parte pareceu mais simples. Deitei de barriga pra cima e esfreguei meu peito e estômago.
<E foi assim que senti dor no estômago e enjoo.>
Os olhos vermelhos de Valence, que estava me observando atentamente, por um segundo me pareceram iguais aos olhos do meu inimigo.
Não sei se consegui comunicar a mensagem… Mas então ela assentiu com uma expressão confiável. Logo depois, Valence estalou os dedos e ordenou.
“Ela não comeu o bastante no almoço. Meimi, informe o chef e traga o feno que mandei importar do oriente.”
Por um momento, o rosto inexpressivo de Memi ficou com uma expressão dura. Fiquei triste por ela não ter me compreendido mesmo estando todo o tempo juntas… Logo, Meimi, que estava até então em silêncio, respondeu com uma voz solene.
“Sim, senhora.”
Não era isso que eu queria! Enquanto me ajeitava com o coração pesado, os lábios de Valence se curvaram. Era o mesmo belo sorriso de sempre.
<Ela parece muito satisfeita…>
Ela devia estar pensando que era bom ter resolvido o problema de forma imediata.
Depois de ela ter ido embora, voltei aos braços de Meimi. Sendo carregada, olhei pela janela com melancolia. Ao contrário das nuvens negras sobre minha cabeça, lá fora estava claro e ensolarado.
<É um belo dia…>
Haaa, não podia evitar de suspirar. Era pedir demais ser capaz de transmitir uma mensagem complexa com esse corpo de coelho? Era um dia no qual estava particularmente ressentida com minhas patas peludas.
***
O pôr-do-sol tingia o céu quando a fronteira territorial foi invadida. Homens-besta lebres usando máscaras pretas entraram no território das panteras negras.
Eles se entreolharam enquanto andavam no meio da vegetação. Em algum lugar, devem estar os restos ou os ossos dos cavaleiros.
“Isso é…”
O capitão que os liderava sentiu seu estômago revolver. Aqueles cavaleiros, seus companheiros, tinham saído para uma missão e nunca tinham retornado. Provavelmente, tinham sido mortos por panteras negras selvagens ali mesmo.
“…É estranho.”
Os olhos do capitão, varrendo as proximidades procurando por fragmentos de osso, ficaram curiosos. Eles não eram fracos o bastante para perder para panteras normais. Além disso, não havia nenhuma confirmação da morte da coelha.
“Invasores mais uma vez.”
Os homens-besta lebre imediatamente viraram na direção da voz, às suas costas. Ali estavam Ahin e Evelyn, acompanhados de várias panteras negras.
“Quem é você?”
“Isso é o que eu quero perguntar.”
Os olhos dos homens, que encaravam Ahin, que sorria de forma refrescante, tremeram com força. A atmosfera cercando esses dois homens-besta…
Por estarem rodeados de panteras negras, eles deveriam pertencer a esse clã. Além disso, deveriam ser poderosos, pois tinham ocultado sua presença perfeitamente sem que ninguém os notasse até que falassem.
“Não pode ser…”
O capitão se lembrou da ausência de ossos. Mastigar até mesmo os ossos de suas vítimas era a marca registrada das panteras negras. Um suor frio escorreu por suas costas.
Logo, o capitão ergueu os olhos e viu que Evelyn e Ahin estavam segurando espadas.
“Por acaso estão procurando por uma coelha?”
O capitão estremeceu ao ouvir a pergunta de Ahin.
“Eu a levei pra casa.”
O que ele quis dizer com “levou pra casa”? Os homens-besta lebres ficaram preocupados. A família Labian queria que ela fosse morta, mas isso queria dizer que tivesse sobrevivido.
As panteras negras mostraram os dentes e Ahin e Evelyn apontaram as espadas.
“Vieram tentar pegá-la de volta?”
Ahin, acariciando as costas das panteras, que rosnavam, sorriu. Talvez porque o sorriso era tão belo, um dos homens-besta lebre falou.
“Vocês estão a protegendo?”
“Bem, eu a levei pra casa. Não posso entregá-la para sujeitos tão suspeitos como vocês. A coelha já foi designada como meu lanche emergencial, então desistam.”
A fala absurda de Ahin foi seguida de um longo silêncio. Comparado com o conteúdo bizarro das palavras, a expressão dele era muito séria.
“Coelha…”
“Lanche emergencial…?”
Os homens-besta lebres se entreolharam… Ainda por cima, lanche emergencial… O capitão, que demorou um tempo para entender as palavras, perguntou, confuso.
“Lanche… Não, quero dizer, então a coelha ainda não está morta?”
“Não fale em ela morrer. Hoje de manhã mesmo, estava cheia de vida, chutando Evelyn no rosto.”
Se ele a chama de lanche emergencial, por que pede que não falem em morte? As bocas dos homens-besta ficaram penduradas. A atmosfera ia ficando cada vez mais bizarra e Ahin, lambendo os lábios, olhou para Evelyn.
“Evelyn, o que acha desses homens?”
Ele falou como se os homens-besta lebres não pudessem escutar. Evelyn se manteve sem nenhuma expressão e pôs as mãos atrás das costas.
“Bem, creio que é imperdoável que estejam de olho no lanche emergencial do Lorde Ahin, a Senhorita Coelha.”
“Tantas palavras desnecessárias.”
“Bem, só pra garantir, aviso ao Lorde que eles podem vir a tentar sequestrá-la.”
“É por essa razão que vim pessoalmente para matá-los.”
Era uma conversa assustadora demais para ser uma brincadeira. Enquanto Ahin e Evelyn falavam, os homens, cuja vida e morte estavam sendo discutidas, se entreolharam.
“O que devemos fazer, capitão?”
“Melhor batermos em retirada.”
“Depois de termos vindo até aqui?”
“Eles devem ser muito poderosos porque não pudemos sentir sua presença. Vamos voltar para o território das lebres. Se preparem para se dispersar.”
Aquela conversa estranha entre os panteras devia ser algum tipo de truque.
Era melhor voltar para a mansão Labian e relatar o que foi descoberto. Os homens, analisando suas rotas de escape, se prepararam para correr, e nesse momento, um feromônio estranho pode ser sentido no ar.
“Glup.”
Eles sentiam como se seus corpos tivessem virado algodão molhado. Quando perceberam que era o efeito do feromônio de um predador, tentaram soltar seus próprios feromônios, mas não foi suficiente.
Pof.
Tudo aconteceu muito rápido. Um por um, os corpos foram caindo no chão devido à habilidade paralizante.
“Gahh-”
Eventualmente, o último homem-besta lebre caiu, se arrastando no chão. Ahin, vendo todos caídos, assentiu para as panteras.
“Bom apetite.”
Assim que escutaram isso, os animais correram, exibindo seus longos caninos.
“Arrrgh!”
“Iirrk!”
O sangue fluía como um rio vermelho na grama. Ahin, se aproximando, sacou a espada. Se aproximou do capitão do grupo, apontando a espada.
“Vou te fazer umas perguntas. Vieram para levar a coelha de volta?”
“Ahh…”
O capitão tremia, encarando a lâmina. Ele não conseguia se mover e parecia que sua voz também estava falhando.
“Oh, não se engane, você não tem como escapar.”
Ahin, olhando para a direção da mansão, sorriu. Evelyn, que notou o sorriso no meio do banho de sangue, falou.
“Lorde Ahin, o senhor parece um vilão.”
“Cala a boca.”
“Sim, senhor.”
Ahin, após calar Evelyn, olhou para o capitão, que tinha desmaiado. Feromônios demais.
Ele estava prestes a espumar pela boca.
Ahin o agarrou pelo colarinho e soltou mais feromônios no ar. O capitão abriu os olhos.
“Ah, ahh….”
“Quero te fazer uma pergunta sobre a coelha.”
“Q-quê…?”
“Ela é um coelho normal, ou um homem-besta?”
A ponta da espada encostou na insígnia de capitão no peito do homem, a cortando para fora.
A pele ficou exposta ao ar frio, e ele apertou os lábios. Após vê-lo hesitar por muito tempo, Ahin suspirou.
“Se você não quer falar, não tem o que fazer.”
Em um segundo, a ponta da espada estava cravada na coxa do homem. Ele gritou quando registrou a dor.
“Aaargh!”
“Quem sabe agora você tenha despertado um pouco mais?”
O sangue começou a fluir quando a espada foi retirada. O capitão ficou pálido. Sua lógica desapareceu perante a dor, e ele ergueu os braços e gritou.
“Eu conto! Contarei tudo que quiser!”
A espada, que estava a caminho do pescoço do homem, parou. Ahin sorriu sem emoção e o capitão abriu a boca, apressado.
“A-a coelha, ela é um homem-besta.”
Ele já tinha imaginado, mas agora que estava confirmado, o sorriso desapareceu da boca de Ahin. A espada voltou a encostar no pescoço do homem.
“Ela não voltou para a forma humana. É um bebê?”
Apesar de ter perguntado, Ahin sabia que era impossível. Um bebê que não apenas compreendia e lia perfeitamente a linguagem do continente como também tinha vários conhecimentos comuns de um homem-besta. Quando ela conheceu Valence, ele ficou surpreso ao vê-la usar a pata dianteira para acenar “oi”.
O capitão olhou para Ahin, que estava sorrindo sozinho novamente, e continuou a falar.
“N-não, ela já tem dezoito anos.”
“Ela tem dezoito?”
“…Ela é uma aberração que mesmo após completar a maioridade, não passou pelo processo de humanização.”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.