A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 109
Quando percebi, Ahin tinha se sentado no chão e estava na minha frente, ao lado do canteiro de flores. Rune tinha saído há poucos minutos… será que eles se encontraram?
Por várias razões, estava com dificuldade de controlar minha mente agitada. Nem mesmo conseguia sentir o cheiro das flores, apesar de estarem bem debaixo do meu nariz.
‘Ele não vai comentar nada sobre a presença de Rune…?’
No entanto, não podia dizer a Ahin sobre o que tínhamos falado. Era o mínimo que eu podia fazer para proteger os sentimentos de Rune. Talvez ele descubra um dia, já que Meimi escutou tudo. Ansiosa, remexi os dedos do pé.
Com o canto do olho, sondei o humor de Ahin, mas então vi que ele estava sorrindo tranquilo.
‘Acho que ele não se encontrou com Rune, então.’
Eu não devia estar tão ansiosa. Mas não consegui controlar minha empolgação sobre dar as notícias da marca de humanização definitiva. Enquanto me preparava para falar, ouvi passos fortes na entrada da estufa. Alguém estava caminhando de forma muito zangada, batendo os pés no chão.
“Escutei que ela veio para a estufa! É o lugar preferido dos conquistadores para ter encontros clandestinos! Ela é um coelho bebê mas ao mesmo tempo é uma expert em flertar com todos!”
“Sogro, se acalme. Na verdade, me perguntei como ela era tão boa em dançar, quando a vi da última vez….”
“É o fim dos tempos!!”
As vozes do vovô e da Senhora Valence foram chegando mais perto.
“Vendo como a égua de Ahin está na porta, ele deve tê-la encontrado primeiro.”
“O que faremos se a encontrarmos antes, com um amante?”
“Não vou ficar calado!! Não sei como é nos outros lugares, mas aqui na família Grace, não podem haver infiéis…”
A voz zangada do vovô parou de repente. Nos vendo sentados na frente do canteiro de flores, seus olhos tremeram violentamente.
“…Ah, céus.”
A Senhora Valence, também com os olhos arregalados, comentou. Cobri minha cara com o buquê, envergonhada.
Sorrindo, ela agarrou os ombros do vovô e começou a empurrá-lo para a saída.
“Sogro, já está um pouco tarde, mas o que acha de irmos chamar um marceneiro? Sua bengala preferida se partiu…”
“Ah, sim, faremos isso. Puxa, me pergunto como ela pode ter se quebrado desse jeito!”
“Foi você mesmo quem fez isso, Sogro.”
Lillian, ainda resmungando, foi levado para fora pela Senhora Valence. Olhando os dois desaparecem sem expressão, voltei a olhar para Ahin. O rosto dele tinha mudado para uma expressão fria, no lugar do sorriso de antes.
“Vivi, por acaso você também dançou para a minha mãe?”
Evitei o olhar dele, sem conseguir nem ao menos mentir.
“Não sabia que você era uma coelha tão fácil, que mostrava sua dança para qualquer um.”
Ahin, me lançando um olhar gelado, falou.
“Coelha malvada.”
‘Ai, meu Deus!’
Eu só tinha dançado para a Senhora Valence por causa dele! Tentando afastar o assunto, empurrei o buquê para ele. Era o aniversário dele, afinal. Tentei me auto-hipnotizar repetindo isso. Ele segurou as flores.
“É um presente de aniversário para mim?”
Ahin, aceitando o buquê, falou em um tom gentil, como se sua raiva tivesse diminuído um pouco.
“…Da última vez que te dei uma flor, você pareceu gostar.”
“Você montou esse buquê inspirado em minha imagem?”
Como ele pode fazer uma pergunta tão embaraçosa!? Quando assenti, os olhos vermelhos se curvaram em um sorriso.
“Acho que minha imagem para Vivi é a de um desastre de trem.”
Predador maldoso!
“Me devolva!”
“Não, é meu.”
Ahin ergueu o buquê, para que eu não conseguisse alcançá-lo. Enquanto eu tentava me esticar ao máximo, seus cabelos prateados esvoaçavam. Era uma cena bonita. Apesar de estar distraída, consegui bloquear a mão de Ahin quando ele tentou tirar a coroa de flores que eu usava na cabeça.
“Isso não é para você.”
“Foi o leão que fez, não é? Não vou celebrar meu aniversário com você usando isso.”
Ele parecia irritado. Acho que tinha sim se encontrado com Rune, afinal.
“Sei que logo será capaz de alcançar a humanização definitiva, Vivi.”
Me lembrando do significado de desejar a felicidade do outro através da coroa, a agarrei com ambas as mãos, para protegê-la de Ahin. Vendo isso, ele falou devagar, suspirando.
“…Agora sei como se sentem as mulheres que se apaixonam por Don Juans.”
O estigma de ser uma coelha conquistadora era injusto, mas parecia que Ahin não ia mais tentar roubar a coroa. Enquanto tocava nas flores trançadas, pensei em como ia transmitir minha mensagem.
“Eu…”
Como temia, não consegui pensar em nada. Minha mente estava ficando em branco com muita frequência quando ficava perto de Ahin, e por isso, meus planos sempre falhavam.
Desviei meus olhos, que teimavam em se fixar nos lábios dele, e me fixei nos olhos vermelhos. Eles estavam mais escuros que o normal, então os desviei para o peito de Ahin. O silêncio continuou por um tempo, e então ele falou.
“Quer que eu tire a camisa?”
“Q-quê!?”
“Os seus olhos de coelha pervertida estão cravados no meu peitoral.”
“Eu não fiz nada disso!!”
“Você estava vidrada.”
Ahin, rindo como a besta maligna que era, inclinou a cabeça. Seus olhos se fixaram no meu pescoço.
“Você está com uma bandagem no pescoço.”
“…Não posso andar por aí sem cobri-lo.”
“Por quê?”
Esse predador pergunta como se não tivesse ideia. Hesitei, tocando a nuca. Como ele espera que eu exponha a pele vermelha e marcada?
“Na próxima vez vou deixar a marca na bochecha, para que fique exposta.”
Ele é louco! Imaginando minhas bochechas marcadas, entrei em pânico e afastei Ahin, cobrindo a cara com as mãos. Ele apontou para o meu pescoço usando o buquê.
“Deixe eu ver.”
Ahin falou cada sílaba numa voz ardilosa.
“Afinal, é meu aniversário.”
Que descarado. Outro dia mesmo ele tinha dito que isso não significava nada para ele. Encarei o sorriso inocente e percebi que ele era deslumbrante demais.
Determinada a não cair na armadilha de beleza, fechei meus olhos para não acabar concordando por acidente. Sem enxergar nada, ouvi uns barulhos. Ahin estava fazendo uns sons farfalhantes.
Tenho certeza que ele está fingindo tirar a camisa para me enganar. Mas eu não vou mais cair nesses truques óbvios. Para provar que era mentira, abri os olhos para checar. E logo vi que a cara de Ahin estava a poucos centímetros da minha. Ele sorriu.
“Que pena, mais uns segundos e eu ia conseguir morder seu nariz.”
“Esse…!”
Tudo que ele pensa o dia inteiro é morder os outros?! Dei uma cabeçada nele. Despreparado, Ahin perdeu o equilíbrio e caiu, derrubando o buquê. As flores foram lançadas no ar e se espalharam por toda parte.
Quando me lembrei do buquê, já era tarde demais. Me inclinei e agarrei os ombros de Ahin, que estava deitado no chão sobre o canteiro de flores.
“O buquê está arruinado.”
“Cala a boca.”
Cheia de rebeldia, fiz uma expressão ameaçadora.
“Ahin ficou me provocando, então não consegui dizer o que eu queria falar.”
Ele arregalou os olhos e não falou nada. Parecia que eu o tinha derrotado. Tentei acalmar meu coração acelerado.
Como eu posso dizer isso? Desviei o olhar das flores espalhadas, e, em vez de olhar nos olhos dele, me foquei no cabelo prateado. Mordi os lábios. Era difícil decidir a ordem das coisas porque eu tinha muito para falar.
‘Sobre a marca de humanização definitiva…. não. Primeiro, o mais importante…’
“….Feliz aniversário.”
Eu sorri envergonhada, encontrando os olhos dele com dificuldade. Ahin ficou calado. À medida que o silêncio começou a ficar embaraçoso, os lábios vermelhos se abriram.
“Obrigado. Teria sido melhor se o buquê não tivesse se estragado.”
“Eu faço outro depois.”
Acho que minhas orelhas estavam vermelhas. Abri e fechei a boca várias vezes. Como expressar meus sentimentos, que pareciam crescer a cada dia? Eu não conseguia dormir à noite, tentando arrumar respostas.
Pensei que ele ficaria feliz ao ouvir isso, mas e se for um fardo? E se Ahin levar em conta coisas como os nossos clãs serem diferentes, e a barreira de status entre as famílias? Será que estaria bem ouvir isso de um coelho bebê?
A ansiedade causada por essas probabilidades ficou entalada nas palavras presas em minha garganta.
“Vivi?”
Enquanto minha hesitação crescia, Ahin chamou meu nome em uma voz grave. Me perguntei se ele estaria curioso. Os meus olhos, que estavam nublados pela dúvida, de repente ficaram claros.
“Ela já deve ter um nome.”
Desde quando? Talvez minhas barreiras tivessem sido derrubadas no momento em que Ahin chamou meu nome pela primeira vez. Enquanto apertava seu ombro, as pontas de meus dedos ficaram brancas. Meu sentimento tinha crescido tanto que eu estava com medo.
Sem falar nada, me inclinei sobre ele e suavemente beijei os lábios de Ahin. Meu coração batia tão forte que me preocupei se as pessoas de fora poderiam escutar. Depois de um tempo, me afastei e murmurei.
“Não vou te trair, nunca.”
Era verdade que eu quase caí nos feromônios da raposa, mas… engoli em seco, as bochechas queimando. Segundos se passaram e não houve resposta de Ahin. Quando o olhei, parecia que ele tinha desmaiado com os olhos abertos.
“Ahin?”
Ele não era o tipo de besta que ficaria desse jeito por causa de um beijo. Me sentindo nervosa, dei um tapinha na bochecha dele, o que o fez despertar. Ele piscou várias vezes e soltou uma voz estranha.
“V-v-vi…”
Então, ele cobriu o rosto com as mãos.
“O espaço entre nós…”
Tendo recebido uma resposta estranha, olhei para Ahin, que se escondia atrás de suas grandes mãos. As pontas das orelhas que eu podia enxergar estavam bem vermelhas.
‘Isso…’
Franzi as sobrancelhas porque concluí que ele tinha ficado abalado com minha confissão.
“Ah!”
Então, ele puxou o meu pulso. Em um instante, eu havia caído deitada sobre Ahin, no canteiro. Arregalei os olhos. O rosto dele estava bem perto.
“Estava grande demais.”
“Oh…”
No mesmo instante em que entendi a frase anterior, os nossos lábios se encontraram. Ahin colocou as mãos na minha cintura e na parte de trás da minha cabeça, girando de leve para ajustar sua posição. Por reflexo, segurei seu antebraço.
“E-espera…”
Ahin continuou o beijo de maneira persistente, de modo que eu não pude respirar. Quando percebi que estava posicionada no meio das pernas dele, ele afastou os lábios por um momento e falou.
“Se você desmaiar dessa vez, vou te devorar.”
Ai, meu Deus.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Aiiii, quero ver eles logo com filhinho