A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 1
Quando abri os olhos, tudo estava escuro. Levantei as orelhas e ouvi passos esmagando folhas no solo.
Estiquei meu pé e bati na parede à minha frente. Através da minha sola, senti uma dura palha trançada.
<Estou dentro de uma cesta?>
Uma vez que meu corpo não parava de tremer mesmo estando sem me mexer, percebi que devia ser a cesta na qual me levavam para “passear” de tempos em tempos.
Para onde estão me levando? Como que respondendo à pergunta, uma voz que eu nunca tinha escutado ressoou.
“Mais um pouquinho e entraremos no território das panteras negras.”
“Vamos acabar com isso de uma vez. Quem é que completa a maioridade e não consegue tomar a forma humana, afinal?”
“Ela deve mesmo ser amaldiçoada como dizem. Cruz credo.”
“Verdade.”
Ao escutar com atenção, percebi que eu era o objeto da conversa deles.
Sim, é incrível, verdade. Definitivamente sou uma homem-besta racional, mas porque não consigo sair da forma de filhote de coelho?
Toda vez que minha mãe olhava pra mim, ela ficava brava e irritada. Sua testa se enrugava automaticamente.
“Por que não vira um ser humano? Seu irmão, Kairi, é normal. Todo mundo consegue se transformar com no máximo três anos de idade, mas você..!”
Ela gritava até minhas orelhas apitarem. Às vezes, ela não conseguia controlar a raiva e me batia com a bengala, às vezes eu era punida ao ficar trancada no meu quarto. Não conseguia sair de lá sem receber alguma punição. Meu pai, obviamente, se envergonhava de mim.
Pra começar, eu nem mesmo conseguiria abrir a porta se não tivesse uma criada para me ajudar.
A família Labian.
Minha família era composta de aristocratas prestigiosos no território das lebres.
Minha mãe, Aven Labian, era a terceira esposa do meu pai, e a mais irritada por eu, sua primeira filha, não conseguir mudar para a forma humana.
Felizmente, meu irmão menor, Kairi, teve sucesso em mudar de forma com menos de 3 anos de idade. Eu tinha 5 anos na época, e ainda estava na forma de coelho.
Os homens-besta conseguem mudar para a forma humana com cerca de três anos de idade, então por quê?
Todos se perguntavam o porquê de eu não conseguir.
E eu ficava frustrada porque não tinha como responder.
Amanhã me transformarei. No dia seguinte. No próximo. O tempo passava friamente, como se risse das minhas expectativas em vão.
E finalmente, mês passado, apesar de eu ter completado 18 anos, a transformação não aconteceu.
Quando fui ao templo com minha mãe, que parecia desconfortável, o sacerdote gritou “Isso é uma maldição!”. A voz dele foi tão alta que meu coração disparou.
***
“Ei, não estamos chegando perto demais da fronteira?”
“Temos que deixá-la mais adentro ou podem surgir problemas. Fomos ordenados a deixá-la morrer na mão das panteras negras.”
“Vou pegar um punhado dessa erva aqui pra levar como prova que fizemos o serviço. É uma planta venenosa que só cresce no território das panteras negras.”
Escutando a conversa, percebi imediatamente que tinha sido abandonada. Imaginei que aconteceria.
Depois da ida ao templo, o jeito de meus pais olharem para mim mudou de irritação para contemplação. Era claro que estariam desconfortáveis em me matar eles mesmos.
“Ei, estamos indo muito longe. Se cruzarmos a fronteira, não teremos nenhuma proteção.”
Escutei a voz do homem, cheia de ansiedade, e senti a cesta tocar no chão.
“Que ridículo, eu já ia deixá-la por aqui de qualquer modo.”
Esse era o território das panteras negras, então obviamente havíamos deixado o território das lebres.
A floresta estava escura. Um lugar infestado de panteras negras.
<Não, por favor, não deixem Vivi aqui. Vou me esforçar para melhorar.>
Prossegui arranhando a palha, mas não conseguia alcançar a tampa. Minha visão ficou turva pelo esforço.
“Argh!”
“Ugh!”
Parei, surpreendida.
Ouvi um grito. Parei de chutar a cesta e prendi a respiração por reflexo.
Cada nervo de meu corpo estava concentrado. Se realmente estivéssemos no território das panteras negras, os cavaleiros que me carregavam podiam ter sido devorados. Deveria fingir estar morta?
Pouco depois, a cesta começou a balançar e abriram a tampa. Logo uma luz forte me atingiu e abri os olhos.
Antes que conseguisse enxergar algo, fui agarrada pela pele do pescoço e levantada no ar.
“Um coelho filhote?”
Uma voz baixa ressoou. Era uma voz clara e grave.
Quando consegui enxergar, vi um homem surpreendentemente belo.
Cabelo prateado que parecia prata líquida se derramando. Cegada pela beleza, percebi que havia baixado a guarda e comecei a tentar me soltar.
<U-uma pantera negra!>
O clã das panteras negras. É um chute, mas ele deveria ser uma pantera negra.
Escutei as criadas de casa conversando entre si.
“Sabia que eles têm os olhos vermelhos?”
“É verdade. Vi uma família de panteras negras na cidade outro dia, e fiquei aterrorizada.”
De acordo com elas, as panteras negras em sua forma humana geralmente têm olhos vermelhos.
Esse homem tinha olhos vermelhos, e além disso, através de seus lábios entreabertos…
Aquilo definitivamente era um canino afiado.
Já que esse é o território das panteras negras, ele deve pertencer ao clã, conclui.
<Me solte, solte a Vivi!>
Enquanto chutava com minhas patas desesperadamente, senti um calafrio e parei de me mover. A expressão do homem de olhos escarlate congelou meu sangue.
<Acho que vou ser devorada.>
Ele me encarou, congelada como eu estava, e logo seus olhos se curvaram em um sorriso largo.
“Você está chorando?”
Quando ele falou, eu percebi. Acho que estive chorando desde que abri os olhos ao ser retirada da cesta.
Queria fingir que não aconteceu, mas sentia como se algo estivesse atravessado em minha garganta.
No entanto, não pude evitar de chorar ainda mais quando o homem prosseguiu falando.
“Chore mais.”
<Oh, meu Deus, ele é louco!>
***
Então, o homem me colocou no bolso como um objeto e saiu andando.
No meio de tudo isso, não pude mais suportar.
Eu desmaiei. Quando retomei os sentidos, estava em um quarto deslumbrante como nunca havia visto na mansão Labian.
<Onde estou?>
Caminhei pelo edredom macio, desesperada.
Não conseguiria pular da cama. Mas precisava fugir daqui.
Antes de perder a consciência, vi algo que não deveria ter visto, pouco antes de entrar no bolso daquele homem.
Era uma cena que não parava de se repetir em minha cabeça.
Na outra mão do homem, havia uma espada encharcada com sangue escarlate, ainda pingando.
Qualquer um adivinharia que ele era a pessoa que havia matado os dois cavaleiros que tinham me trazido ali. Todos da família Labian diziam que os nossos vizinhos de território, os panteras negras, eram impacientes e cruéis.
<Por que esse homem me trouxe aqui em vez de me matar lá mesmo?>
Só podia pensar em uma possibilidade por mais que tentasse.
Com o tamanho de um coelho filhote, eu não serviria como ração de emergência, mas talvez como lanche emergencial.
<Não!>
Eu bati na cama com as patas dianteiras depois de rolar no edredom.
Não, não podia ser. Não queria morrer num lugar tão estranho, nem mesmo era o meu território.
<Agora é a minha única chance de fugir!>
Juntando minha determinação, comecei a preparar as patas traseiras. Mesmo que quebrasse um osso, precisava saltar da cama para o chão.
<Lá vou eu!>
Estava voando! Estava mesmo voando?
Meu corpo, que havia saltado alegremente, foi pego pelas mãos de alguém ainda no ar.
Não me diga que é o pantera negra que encontrei na floresta mais cedo. Quando movi os olhos nervosa, vi um homem de cabelos pretos.
Ele me olhava com ansiedade.
“Foi por pouco. Não deve ser tão imprudente.”
Por sorte ou azar, a mão que me segurava não pertencia ao pantera negra grosseiro de antes.
Mas estranhamente, a voz e expressão dele, ao contrário de sua aparência certinha, eram cheios de emoção.
Quando estava quase relaxando pelo contraste irônico, voltei a ficar alerta.
Engoli em seco. Não podia baixar a guarda. Toda vez que o homem falava, podia ver caninos que brilhavam.
Pra completar, sendo verdade ou não que os panteras negros tinham olhos escarlate, os dele também eram vermelhos.
“O Senhor Ahin colocou essa coelha para descansar na cama dele, o que é bem curioso. Bem, é um prazer conhecê-la, de onde você vem?”
Não podia responder mesmo que quisesse.
<Do território das lebres! Território das lebres!>
Infelizmente, meu grito interior não era comunicável e não chegava ao homem.
“Entendi, você não consegue falar….”
Não havia razão para ele estar tão surpreendido. Ele não batia bem da cabeça, certo?
<Me solta!>
Eu praguejei amargamente por dentro, mas o homem não parecia ter nenhuma intenção de me largar.
“O chão deve ser mais seguro que a cama.”
Depois de andar até o sofá, ele pegou uma almofada que parecia macia e a colocou no chão.
“Senhorita Coelha, não deve se ferir enquanto estiver aqui. Você é propriedade do Senhor Ahin, afinal.”
O homem, me colocando na almofada, explicou num tom sério. Era incompreensível.
<Preciso de mais detalhes.>
Que nome de “Senhorita Coelha” era esse? E, “propriedade”? Ficando irritada, eu bati na almofada com a pata dianteira.
O homem arrumou o próprio cabelo com os dedos.
“Também, mantenha a mente aberta.”
Aberta? Olhei para ele sem expressão.
No entanto, baseado no que ele me falou, já pude obter algumas informações.
O homem na minha frente parecia ser servo do homem que me colocou no bolso, e o nome que ele havia repetido, “Senhor Ahin” parecia ser o nome de seu chefe.
‘Conte mais’.
Quanto mais informação, melhor.
O homem, que acariciou minha cabeça com um toque amigável, falou.
“Para o Senhor Ahin trazer um coelho para o quarto dele, deve haver uma razão especial.”
<Especial?>
“Acho que você é um lanche emergencial.”
…Eu estava certa. Mais uma vez, desmaiei.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Keke
Ela está com medo,eu também estaria
ABlossom
Ai que lindo, amooo. Obrigada pela tradução 🥰🥰🥰🥰